IndieLisboa: O pulsar do cinema no mundo

No passado domingo terminou mais uma edição do Indielisboa. Na véspera, surpresas e confirmações marcaram a cerimónia de entrega de prémios, onde pela terceira vez consecutiva a Igreja Católica participou, atribuindo prémio e menção honrosa às obras nacionais a concurso que o júri considerou melhor abordarem em estética e conteúdo os valores humanos e da vida.

Após aturada e enriquecedora reflexão, bem espelhando a enorme responsabilidade de restringir a duas as múltiplas opções possíveis entre a cinematografia nacional, com abordagens de valor no enquadramento do Prémio Árvore da Vida, as escolhas recaíram sobre as curtas “Luz da Manhã”, de Cláudia Varejão e “Mupepy Munatim”, de Pedro Peralta.

Plural por natureza, o Festival de Cinema Independente é, desde há nove anos em Portugal, o espaço que abrange e abre ao público a maior diversidade de géneros e formatos cinematográficos na sua programação: curtas e longas metragens, ficção e documentário, cinema nacional e estrangeiro (dos mais variados lugares do mundo) chegam em onze dias a um público de abrangência equivalente: infantil, jovem, adulto e sénior; profissionais e amadores; cinéfilos e curiosos; crente e não crentes.

O seu grande valor está, para além desta abrangência, na génese independente, que significa exatamente evidenciar ao público o pulsar do cinema no mundo, para lá das cada vez mais redutoras agendas e fronteiras comerciais. Com efeito, é na programação cultural que podemos genuinamente conhecer a forma como o cinema, e não a sua indústria, espelha e projeta o que somos e o que podemos vir a ser.

Na sua nona edição, as temáticas abordadas na cinematografia nacional multiplicaram-se, embora com explícita ou implícita prevalência de questões sociais e profundamente humanas. Uma porta naturalmente aberta ao espiritual, que mostra bem a atenção dos cineastas, programadores e diversos júris, atendendo ao palmarés, ao momento que hoje vivemos e à incessante busca humana do transcendente.

“Luz da Manhã”, que em breves e intensos minutos interroga o frágil equilíbrio das relações em contexto de incapacitação, revelando a natureza em todo o seu esplendor e beleza como possibilidade contínua de harmonização interior; ou “Mupepy Munatim”, uma tocante homenagem de um jovem realizador ao tão dirimido tema da morte na sociedade ocidental, encontrando na oração e no relento a sua maior expressão de recomeço de vida, são, pois, as propostas que o Júri Árvore da Vida deixa ao imenso universo da Igreja como ponto de partida para a reflexão, enriquecimento interior e diálogo plural.

Margarida Ataíde

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