Padre António Sousa Fernandes, de 79 anos, esteve com a população a combater o fogo
Vouzela, 16 out 2017 (Ecclesia) – O pároco de Ventosa, na Diocese de Viseu, onde morreram quatro pessoas na sequência do incêndio florestal deste domingo, falou num “choque muito forte”, depois de uma noite no terreno, ajudando quem combatia o fogo.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o padre António Sousa Fernandes disse hoje que vai pedir aos familiares dos mortos que “ganhem coragem”.
“É um choque muito forte, porque são pessoas com quem convivíamos e de um momento para o outro deixam-nos”, acrescentou, emocionado.
“Apanhado desprevino e em choque”, o sacerdote que vai fazer 80 anos, em janeiro do próximo ano, esteve ao lado da população a tentar apagar os fogos.
“Só agora é que estou um bocadinho livre; estou estoirado”, disse o entrevistado que é natural do Sátão.
O padre António Sousa Fernandes andou “em todos” os fogos, dado que perante a situação dos incêndios foi preciso “pegar nos meios disponíveis”; os bombeiros estavam no “início do fogo” numa freguesia a 16 quilómetros de distância.
“Não podia haver bombeiros aqui. Eram baldes de água, ir entusiasmando as pessoas para se ajudarem uns aos outros, ardeu tudo”, relata.
Segundo o pároco da Ventosa, Vouzela, agora é preciso estudar “caso por caso o apoio que se puder dar”.
Pároco na região há 48 anos, o sacerdote explica que “existe prevenção” e tratamento das terras em alguns sítios, mas considera que “o exemplo tem de vir de cima”.
“As coisas que são do Estado são exemplo para os outros e, como não estão limpas, os outros também se vão descuidando”, observa.
Até ao momento, 31 mortos e 51 feridos é o balanço da Proteção Civil dos incêndios que lavram desde este domingo em Portugal continental e envolvem mais de três mil efetivos no seu combate.
“O nosso fim é breve e não sabemos nem quando, nem como, nem onde é que nós terminamos a vida na terra. E que o que lhes aconteceu a eles, podia ter acontecido a nós”, sublinha o padre António Sousa Fernandes.
A Conferência Episcopal Portuguesa publicou a 27 abril deste ano a nota pastoral ‘Cuidar da casa comum – prevenir e evitar os incêndios’, onde alerta para o “flagelo” dos incêndios e pedia a toda a sociedade que se mobilize para contrariar uma “chaga” de “proporções quase incontroláveis”.
CB/OC