Capelão nacional da Liga dos Bombeiros Portugueses, nas exéquias de três bombeiros de Vila Nova de Oliveirinha, criticou «livros brancos» sobre áreas de governação que não saem do papel
Tábua, 21 set 2024 (Ecclesia) – O capelão nacional da Liga dos Bombeiros Portugueses, D. Américo Aguiar, pediu hoje que a morte dos bombeiros Paulo Santos, Sónia Melo e Susana Carvalho não dívida, mas que torne todos “mais fortes e fraternos”.
“Temos de ter esperança e acreditar que amanhã vai ser melhor. Estes acontecimentos não nos podem dividir. A morte destes heróis não nos pode dividir, mas tornar-nos mais fortes, mais fraternos, mais juntos para que na próxima, se houver próxima, saiamos todos vivos e vencedores”, afirmou o cardeal, que participou nas exéquias dos três bombeiros do quartel dos Bombeiros de Vila Nova de Oliveirinha, em Tábua, na Diocese de Coimbra.
“Não permitamos que a discórdia, a divisão tome conta dos nossos corações, nem procuremos culpados durante a noite, a dormir. Não façamos isso, não é digno da memória dos que aqui queremos sufragar. Pelo contrário. Tenhamos a grandeza própria de Portugal e dos portugueses que é nos momentos de maior dificuldades sermos maiores que nós próprios”, acrescentou.
As vítimas faleceram durante o combate ao incêndio de Vila do Mato, freguesia de Midões, no concelho de Tábua.
O capelão nacional da Liga dos Bombeiros Portugueses quis prestar homenagem a “todos os bombeiros”.
“É uma das coisas pelas quais nos devemos orgulhar mais no nosso país: com dificuldades e problemas que temos, mas quando é necessário agir, estamos em prontidão para agir e isso não tem preço. E é isso que queremos aqui sublinhar e significar, no que significa o respeito pelos que partiram e pelos que estão vivos”, indicou.
O responsável criticou ainda os “livros brancos” que existem sobre várias matérias da governação mas que custam a sair do papel.
“Há, algures no Terreiro do Paço, uma estante sobre todas as áreas de governação, porque há décadas e séculos fazemos livros brancos para tomar as decisões mas às vezes custa a sair do livro branco. Não desbaratemos, não desvalorizemos o que foi a entrega das vidas destes irmãos. O valor da vida é a certeza, a força, o cimento e betão da força que precisamos para no próximo ano estarmos mais fortes, capazes, vitoriosos para encarar as adversidades do verão ou dos incêndios que possam acontecer”, pediu o bispo de Setúbal.
D. Américo Aguiar dirigiu-se à família das vítimas: “Não se preocupem com a Susana, o Paulo ou a Sónia. Eles estão no coração de Deus, estão entregues. Preocupemo-nos agora uns com os outros, como família e cidadãos. A melhor forma de homenagear agora os que partiram é tratar do que cá estão”.
O cardeal afirmou que após a “última tarde de verão”, virá “um tempo novo e diferente”, onde a natureza vai ensinar a auto regenerar.
O bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes, presidiu à Missa exequial, no quartel.
“Quis o arquiteto que este quartel tivesse esta forma de uma mangueira em que, quando a água corre em abundância, ajuda a apagar os incêndios e a aliviar o sofrimento de tantas pessoas que estão à beira do abismo”, disse o responsável, na homilia da Eucaristia.
Numa intervenção citada pela Renascença, o bispo de Coimbra deixou uma palavra de encorajamento aos presentes.
“Aos bombeiros, apesar de tudo aquilo que tem acontecido entre nós, apesar de todos os desastres que os tempos nos têm trazido, que não desanimem. Mas, porventura, ganhem um entusiasmo e uma força interior maiores ainda”, referiu D. Virgilio Antunes.
Os três bombeiros foram sepultados no Cemitério de Vila Nova de Oliveirinha.
LS/OC