D. Rui Valério presidiu ao funeral da quarta vítima mortal dos fogos deste verão, na Igreja de Algueirão-Mem Martins

Algueirão, 28 ago 2025 (Ecclesia) – O patriarca de Lisboa presidiu na tarde desta quarta-feira ao funeral do sapador florestal Daniel Esteves, que morreu na sequência do combate às chamas no Sabugal, na Guarda, lembrando uma vida de dedicação aos outros.
“A bravura e a coragem não eram logística do seu operar, mas parte da sua pessoa, da sua vida, do seu jeito de servir amando. Não temia o fogo, nem o frio, não fugia aos desafios, nem jamais hesitou em dizer ‘presente’ a um pedido de socorro ou a um grito de ‘ajuda’”, afirmou D. Rui Valério, na celebração de Sufrágio, na igreja de Algueirão-Mem Martins, em Sintra.
Na homilia, o patriarca de Lisboa preferiu não exaltar Daniel Esteves só como herói, mas sim “vislumbrar na sua vida um pedaço daquela grandeza que está para lá do tempo, do nós, do mundo”.
“A sua vida deixou de lhe pertencer desde que intuiu que não podia que ser para os outros. Endossou um projeto cujo beneficiário não era ele, mas as pessoas, as vilas e aldeias, as cidades e a natureza, o mundo”, enfatizou.
D. Rui Valério destacou que, tecido com carácter e espírito de sacrifício, o quotidiano deste sapador florestal “refletia alegria e serenidade na possuída certeza de que o rumo da realização de cada um, passa necessariamente por aquilo que fazes pelos outros”.
A sua vida de sapador, defensor e protetor dos mais débeis, foi coroada com a coroa da imortalidade”, sublinhou.
Na celebração, concelebrada por D. Américo Aguiar, capelão nacional da Liga dos Bombeiros Portugueses, o patriarca de Lisboa convidou “a gritar bem alto um sentido obrigado pelo que o Daniel Esteves revelou enquanto homem e pelo que deu enquanto sapador”.
“Também nos mostrou uma outra possibilidade de habitar o mundo, uma outra perspetiva de olhar para a vida… a exemplo de Jesus Cristo e inspirado por Ele, fez-nos ver quais os verdadeiros pilares que sustentam a vida, quais as traves que suportam a existência, dando-lhes espírito construtivo e denso sentido”, assinalou.
Segundo D. Rui Valério, “quando as suas razões são efémeras, fugazes e transitórias, a vida não é mais do que uma sucessão de instantes fugidios, votados ao esquecimento”.
No entanto, acrescentou, “quando o significado da vida se explicita na consagração a valores e referências intemporais, que são eternos e sem prazo de validade, enquanto superam as fronteiras da história, como o testemunha o evangelho, então a vida revela-se tecida de eternidade, mostra que os fios que tecem o tapete da existência, são fios de eternidade como o amor, a esperança, a fé…”.
D. Rui Valério realçou que “só quem ama servir em espírito de abnegação para proteger vidas e bens que não lhe pertencem pode estar iluminado pelo que é decisivo no ser humano”.
“Mas é também ao mundo do coração que um defensor chega quando atinge o modelo da sociedade que sonha e se oferece para o construir e proteger”, indicou.
O Daniel deixa-nos a responsabilidade de acreditar na força de servir e, na luz dessa força, respondamos ‘presente’ ao apelo de construir a civilização do amor”, concluiu o patriarca.
Na homilia, em que afirmou que “a morte não pode ser o fim, mas tem de ser um cumprimento”, D. Rui Valério dirigiu “uma palavra de conforto, e admiração aos familiares, amigos e camaradas do sapador”.
Daniel Esteves, que trabalhava numa empresa privada ligada à proteção da floresta, é a quarta vítima mortal dos incêndios deste verão em Portugal, tendo morrido no passado sábado após ter ficado ferido com gravidade num incêndio no Sabugal.
LJ/PR