D. António Couto salienta que, no interior, «não podem ser reduzidos a simples contagem de votos»

Lamego, 26 ago 2025 (Ecclesia) – O bispo de Lamego afirma, no contexto dos incêndios, que as pessoas no interior “têm os mesmos direitos e a mesma dignidade de todos” e que é necessário “racionalizar a saúde, a cultura, os serviços, vias de comunicação, comunicações”.
“Esta é a hora de todos vermos melhor o que estamos a fazer para não deixar este interior do país abandonado. Esta é a hora, esta pode ser a hora de todos prestarmos a devida atenção a este belo chão que Deus nos deu. Esta tem de ser a hora de usar a razão e o coração. Esta vai ser a hora de sabermos raciocinar e racionalizar a saúde, a cultura, os serviços, as vias de comunicação, as comunicações”, escreve D. António Couto, num artigo publicado na página da Diocese de Lamego na internet.
‘Não podemos ficar quietos, tranquilos e calados’, é o título da reflexão, onde o bispo de Lamego assinala que “o interior vale poucos votos”, mas acrescenta que as pessoas que ali vivem “têm os mesmos direitos e a mesma dignidade de todos os outros, e não podem ser reduzidos a simples contagem de votos”, por isso, “não basta dizer e atirar para o ar com belos ramalhetes de promessas”.
Ninguém investido em autoridade neste país, seja a nível central seja a nível local, pode ficar quieto, tranquilo, descansado, limitando-se uma vez mais a voltar a dizer que agora sim, agora é que vamos pensar e levar a sério a desertificação do interior do nosso belo país, dotando as pessoas que lá vivem com os mesmos direitos, meios e estruturas que todos os outros cidadãos.”
D. António Couto afirma que os habitantes da região não podem “ficar quietos, tranquilos e calados”, nem devem, quando se vê “arder pessoas, casas, animais, campos, árvores, montes”, “tudo varrido num infindável instante” pelo fogo, pelo fumo, pelo vento”, e veem “exaustos” a proteção civil, os bombeiros, a GNR, os militares e “tantos, tantos populares” a travar uma luta desigual com “mil fogos desregrados”.
Quando vemos a terra à força enviuvada, e o sol e a lua, nossos irmãos, vestidos de sangue carregado, não podemos fechar os olhos e as mãos, as entranhas e o coração. Quando ouvimos os gritos angustiados de tantos de nós que veem os seus bens arrebatados pelas chamas e o futuro ali à sua frente trucidado, não podemos apagar a dor que nos sufoca e continuar a dormir um sono sossegado.”

O bispo de Lamego partilha também a sua “comunhão de irmão, a mão, a oração, a solidariedade e entreajuda”, com os “irmãos de todo o centro-norte” de Portugal, as comunidades, e também a sua diocese, “varrida pelas chamas quase por inteiro, como Cinfães, Sernancelhe, Moimenta, Mêda, Penedono, Tabuaço, Armamar, Pesqueira, Foz Côa, Tarouca.
A reflexão do bispo de Lamego é um “grande grito de esperança” e quer “deixar também no ar um grito que se oiça em todo o lado”.
D. António Couto termina o seu artigo com uma ‘NB’ (Nota Bem), onde lembra que, há 11 meses, estava a escrever mais ou menos a mesma coisa e, por isso, espera “que esta seja a última vez”.
Os incêndios de deflagraram em Portugal, nomeadamente na região Norte e Centro, a partir dos últimos dias de julho já causaram quatro mortos, incluindo um bombeiro.
CB/PR