Incêndios: Falecimento de ex-autarca aconteceu «extemporaneamente», afirmou bispo da Guarda, lembrando promessa de «relação de vida plena», de «vida eterna»

D. José Pereira presidiu às cerimónias fúnebres de Carlos Dâmaso, que morreu no combate às chamas, e apelou à coesão social, coesão territorial e alertou para a «gestão florestal e energética»

Foto Pedro Sarmento Costa/EPA/Lusa

Guarda, 19 ago 2025 (Ecclesia) – O bispo da Guarda presidiu hoje às cerimónias fúnebres de Carlos Dâmaso, antigo autarca que morreu a combater um incêndio em Vila Franca do Deão, referindo que “cada um encontra uma morada mais adequada para ser guiado até Deus”.

“Ninguém sabe ao certo quando isso será. O natural, se não houver acidentes externos ou internos (doenças), será quando o organismo parar naturalmente a sua capacidade de funcionar. Mas, por vezes, tal ocorre extemporaneamente, como na situação do nosso irmão Carlos Dâmaso”, afirmou D. José Pereira, na homilia da Missa presidida na Igreja de Vila Franca do Deão, na Guarda.

“Em qualquer caso, o Senhor sempre se aproxima para nos resgatar da morte e nos levar para essa relação de vida plena que preparou para nós e a que chamamos de vida eterna”, sublinhou.

Segundo D. José Pereira, esta “é a verdade que Jesus anuncia”, acrescentando que “não se trata de uma mera realidade idealizada num futuro melhor”.

“Mas a verdade também não é em primeiro lugar uma ideia ou teoria a captar intelectualmente. A relação viva e próxima com Jesus torna-se o ‘lugar’ onde cada um se revê partir dos olhos de Jesus e se descobre no que já é, e na plenitude que lhe é tornado possível vir a ser, se caminhar em Jesus. Ele é a verdade”, destacou.

De acordo com o bispo, “com uma fé explícita ou com uma procura difusa, com alguma clareza ou com muitas dúvidas, com uma pertença eclesial ou com uma espiritualidade sem Igreja, com a morte esperada ou apanhado de surpresa, Deus sempre apresenta a cada um o modo preparado e mais ajustado para o conduzir ao Pai, enquanto caminho, verdade e vida”.

A homilia realça que na “convivência em sociedade, como nação e também enquanto sociedade de nações”, todos habitam “a casa comum, anúncio da casa do Pai”.

“Mas não a habitamos todos da mesma maneira: também nesta casa comum há muitas moradas, e Jesus ensina-nos a preparar lugares para todos e para cada um”, disse  D. José Pereira.

Levando “a sério esta provocação”, o bispo diocesano observa “que emergem três realidades que mais imediatamente” desafiam todos ao nível da “vida nacional”.

D. José Pereira nomeou o desafio da coesão social entre comunidades de diferentes origens etno-geográficas e culturais, enfatizando que “com mais ou menos medidas de regulação, com estas ou aquelas políticas de integração”, todos são chamados a reconhecerem-se “habitantes da mesma casa, que se enriquecem na partilha de diferentes ‘lugares’ humanos e culturais”.

“Em segundo lugar, o desafio da coesão territorial e do desenvolvimento regional”, indicou o bispo, que considera que é “preciso ultrapassar um discurso redutor e generalista sobre o Interior desertificado e envelhecido e preparar lugares com estruturas que se tornem atrativos para a fixação de novas empresas e famílias”.

Por fim, o bispo mencionou ainda o “desafio da gestão florestal e energética”, salientando que “ordenar o mato e a floresta é diferente na Serra da Amoreira ou de Monsanto e na Serra do Pisco, da Estrela ou da Malcata”.

“Aquecer e arrefecer habitações, é diferente em Lisboa ou Oeiras e na Guarda ou Castelo Branco. É preciso oferecer atenções diferentes a lugares diferentes”, realçou.

No final da homilia, o bispo pediu orações por Carlos Dâmaso e também “pela sua família, por todos os que se veem ameaçados pelos incêndios, pelos que combatem os fogos, e por todos os que têm responsabilidades de decisão em favor do bem comum”.

Carlos Dâmaso, ex-autarca da Junta de Freguesia de Vila Franca do Deão, no concelho da Guarda, morreu aos 43 anos, na sexta-feira, ao combater um fogo, tornando-se a primeira vítima mortal dos incêndios florestais que assolam o país.

Múltiplos incêndios rurais têm deflagrado em Portugal continental desde julho, sobretudo nas regiões Norte e Centro, num contexto de temperaturas elevadas que motivou a declaração da situação de alerta desde 2 de agosto que se prolonga até terça-feira.

LJ/PR

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