«Tínhamos aqui um vale que era uma maravilha, todo verdinho, veio o fogo, ficou tudo sem nada», conta João Brito, no Concelho de Seia
Lisboa, 27 ago 2016 (Ecclesia) – As dioceses do território continental mais atingidas pelos recentes incêndios, como Aveiro, Porto, Guarda, Viana do Castelo e Viseu, temem agora um cenário de maior isolamento e pobreza das populações.
O presidente da Cáritas de Aveiro, o diácono José Alves, sublinhou à Agência ECCLESIA que “o levantamento ainda está a ser feito no terreno” mas destaca os danos materiais “em casas, armazéns e estaleiros, e a “grande extensão de área florestal ardida”, sobretudo nas “zonas de Águeda e Anadia”.
Muitos agricultores ficaram “sem as suas alfaias, os seus tratores” e também sem “pastos para alimentar os animais”.
Neste momento está uma equipa a “avaliar as necessidades imediatas” das pessoas, constituída por elementos da Cáritas diocesana, da autarquia de Águeda, da Santa Casa da Misericórdia de Águeda, das conferências vicentinas e mais algumas instituições locais”.
“A câmara pediu aos proprietários para que façam também a sua própria análise aos estragos e às necessidades que têm”, salientou o presidente da Cáritas de Aveiro.
Recorde-se que o Distrito de Aveiro foi o mais afetado no país pelos fogos, com mais de 41 mil hectares de floresta destruídos pelas chamas.
Na Diocese do Porto, Arouca foi o ponto mais complicado do mapa de incêndios, com as chamas a consumirem 58 por cento da floresta do município.
Os agricultores e produtores de gado perderam quase todo o pasto disponível, e a autarquia estima que sejam necessários pelo menos 430 mil euros para garantir a alimentação dos animais.
Segundo Daniela Guimarães, técnica coordenadora da Cáritas do Porto, neste momento “as situações estão a ser resolvidas a nível local”, mas tanto a diocese, por intermédio do seu bispo, D. António Francisco dos Santos, como a própria Cáritas já manifestaram toda a disponibilidade para ajudar, “caso haja necessidade”.
“Houve o caso de uma família desalojada em Gondomar, mas esse problema também foi prontamente resolvido a nível local”, salienta aquela responsável.
Em Viseu, nomeadamente em São Pedro do Sul, várias comunidades foram também tocadas pela calamidade.
O padre Adelino Pires acompanha diversas comunidades espalhadas pela Serra de São Macário, como São Martinho das Moitas, onde as chamas chegaram a ameaçar mas “não houve pessoas desalojadas”.
No entanto, aldeias como Soito e Posmil tiveram mesmo de ser evacuadas por precaução, com diversas casas a serem consumidas pelo fogo.
“A serra ficou com uma grande queimada e os pinhais eram um modo de vida, de sobrevivência, de muitas destas pessoas, que consoante a necessidade iam também vendendo pinheiros que davam algum dinheiro para as suas necessidades”, realça o sacerdote.
Nestas povoações mais isoladas, no meio da serra, as populações perderam bens e outros recursos essenciais, como o alimento para o gado e terras de cultivo.
“É uma situação um pouco de desespero, de querer dar de comer aos animais e não ter onde”, salienta o padre Adelino Pires.
Perante este contexto, a Cáritas Portuguesa está a avaliar formas de ajudar as pessoas que menos têm e a Câmara Municipal de São Pedro do Sul já emitiu um apelo à população para que faça chegar por exemplo fardos de palha, feno, aos agricultores carenciados.
Ao nível dos recursos materiais e naturais, as chamas afetaram ainda gravemente outras regiões do país, como Viana do Castelo (23 mil hectares de floresta ardida) e a Guarda (8 mil hectares).
Em Viana, segundo o padre Artur Coutinho, do setor da pastoral social e caritativa, as zonas mais fustigadas foram Arcos de Valdevez, Vila Nova de Cerveira, Caminha, Ponte de Lima e Melgaço.
“Casas parcialmente ardidas foram várias”, assim como “terrenos, bolsas de cultivo e de pasto”, o que “veio aumentar” a necessidade das pessoas, sobretudo as “que vivem nas serras”, realça o sacerdote.
De acordo com aquele responsável, Viana do Castelo é uma das regiões onde a pobreza e o desemprego mais se fazem sentir, tendo inclusivamente “aumentado o número de pessoas que recorrem ao refeitório social” da Cáritas diocesana.
Na Guarda, o Concelho de Seia viu o seu nome colocado no mapa dos fogos, com particular realce para a localidade de Teixeira, com cerca de 100 habitantes, que passaram por momentos de grande aflição.
João Brito foi um dos moradores que “perdeu tudo” para as chamas, desde “vinha, feijão, batata, tudo o que tinha semeado no campo, inclusivamente três casas agrícolas arderam”.
“É uma desilusão total, tínhamos aqui um vale que era uma maravilha, todo verdinho, veio o fogo, ficou tudo sem nada”, lamenta.
Numa localidade com acessos muito difíceis, situada nos contrafortes da Serra da Estrela, foi ainda mais complicado receber ajuda.
“A estrada está com uma derrocada mesmo aqui ao pé de nós, vinha o fogo e a gente não podia sair daqui, estávamos isolados completamente. Faz dois anos que isto aconteceu e não vemos a situação resolvida”, aponta João Brito.
Depois de várias semanas de tensão, devido aos incêndios, as regiões mais afetadas do país procuram agora reerguer-se e retomar a vida normal, com a esperança de que catástrofes como estas não voltem a suceder.
A Caritas Portuguesa tem uma conta bancária solidária de “Ajuda as Vítimas dos Incêndios em Portugal", com o IBAN – PT50 0035 0697 0059 7240130 28.
JCP