“Parece que se entra na época dos incêndios como se entra na época balnear” – D. Manuel Clemente
Fátima, 27 abr 2017 (Ecclesia) – A Conferência Episcopal Portuguesa denunciou hoje “comportamentos criminosos” que estão na origem do “flagelo” dos incêndios e pede a toda a sociedade que se mobilize para contrariar uma “chaga” de “proporções quase incontroláveis”.
Na nota pastoral “Cuidar da casa comum – prevenir e evitar os incêndios”, o episcopado português afirma que Portugal “tem sido de tal modo assolado por incêndios que estes se tornaram um autêntico flagelo com proporções quase incontroláveis”.
“Que fazer? Vamos resignar-nos a uma chaga com tais dimensões, como se de uma fatalidade impossível de contrariar se tratasse? De modo algum”, alerta a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
Em conferência de imprensa, o presidente da CEP disse que “parece que se entra na época dos incêndios como se entra na época balnear”.
Para D. Manuel Clemente, os portugueses não se podem “habituar” ao flagelo dos incêncios porque “afeta gravemente as populações” e é uma “perda gravíssima” para o património natural.
“Não nos podemos acomodar”, afirmou o presidente da CEP, recordando que na primeira reunião dos bispos de Portugal, em 1926, o assunto foi também abordado, referindo-se o episcopado da altura ao “problema do fogo posto”.
A CEP recorda que “as causas do flagelo dependem direta ou indiretamente da vontade humana”, tendo “na origem de muitos incêndios, talvez da maioria, estão comportamentos criminosos, uns intencionais, outros pelo menos negligentes”.
“Há que apurar não apenas as causas da dimensão desta prática – o que verdadeiramente ainda se não conseguiu até hoje – como há sobretudo que detetar e combater interesses que dela possam beneficiar”, sublinharam os bispos de Portugal.
O episcopado alertou para a necessidade do “estado de conservação em que se encontram os terrenos e as florestas”, considerando que as exigências colocadas na “limpeza das matas e de ordenamento territorial” “podem ultrapassar as capacidades dos proprietários, quando os terrenos lhes proporcionam rendimentos escassos”.
Para os bispos de Portugal, é necessário “apoiar os proprietários com outros incentivos” e o Estado deve ser “o primeiro a dar o exemplo no cumprimento das exigências que impõe”.
A Conferência Episcopal Portuguesa pede uma “mudança de mentalidade e hábitos sociais” e desafia toda a sociedade a mobilizar-se nas “suas diversas instâncias”, nomeadamente o Estado, a Igreja Católica e todas as outras confissões religiosas”, as autarquias, as escolas, a comunicação social e “as mais variadas associações e muitas outras instituições, seja qual for a sua dimensão”, de “forma concertada”.
"Apelamos às comunidades cristãs a que tudo façam para comprometer os seus membros nesta causa que é tão cristã quanto humana", concluem os bispos de Portugal na nota pastoral publicada no fim da 191ª assembleia plenária d Conferência Episcopal Portuguesa, que hoje terminou em Fátima.
PR