Perante a morte da Mãe, dois irmãos gémeos são informados da existência dum terceiro irmão que devem descobrir. A demanda implica, por sua vontade expressa, que a mãe não tenha enterro condigno nem direito a lápide, até que aquele filho seja recuperado.
Enquanto Simon se mostra renitente a esta disposição da mãe, Jeanne acede sem reservas. Acompanham-na uma série de pressupostos baseados na Matemática pura com que lida todos os dias: que só existem soluções estritas e definitivas para problemas estritos e definitivos; e que a sua vida, como todos os dias assume na sua profissão, acaba de derivar para o enfrentar de problemas insolúveis cujas respostas não farão mais que levantar nova quantidade de questões e problemas, sempre no risco de não ter qualquer solução. Um mundo permanentemente contrariado pelos cépticos, num caminho de inevitável solidão. E, no entanto, também de esperança!
A viagem começa então, rumo ao Daresh, Médio Oriente, e a dois tempos. Nela, Jeanne e Simon irão encontrar problemas com muitas mais incógnitas e variáveis do que alguma vez poderiam imaginar. Com a guerra por constante e o amor por solução.
Propulsionado por uma candidatura ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, “Incendies – A Mulher que Canta”, é uma produção canadiana que nos propõe simultaneamente uma caminhada interior e uma viagem por uma porção de história infeliz do conturbado Médio Oriente.
Baseado na peça de teatro homónima da autoria do reconhecido libanês Wajdi Mouawad, a adaptação dirigida por Denis Villeneuve não chega a atingir o equilíbrio e a consistência narrativa da obra original. Surje assim como uma derivação algo radical, preterindo a tónica poética da versão de palco em favor de um drama cinematográfico mais comum e menos brilhante.
Não deixa porém de enquadrar parte dos tristes 15 anos de guerra civil que perduraram no Líbano, contrapondo uma comovente história de esperança e amor que dentro desse quadro sobrevive.
Margarida Ataíde