In memoriam: Irmã Otília Rodrigues Fontoura (1935-2007)

Historiadora Clarissa no Processo de Canonização da Madre Virgínia Na noite de 26 de Novembro, com um sorriso celestial nos lábios, a Irmã Otília foi viver eternamente no Céu com S. Francisco, Santa Clara de Assis e com a Madre Virgínia, a quem amava de todo o coração. A Irmã Otília Rodrigues Fontoura nasceu em Mairos, Concelho de Chaves e Diocese de Vila Real, no dia 15 de Novembro de 1935. Realizou os estudos primários na sua terra natal e os secundários na cidade do Porto. Desde muito jovem sentiu o apelo do Senhor a uma vida de consagração total. Aos 15 anos de idade, a 16 de Agosto de 1950, entrou nas Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora, onde fez a sua formação humana, religiosa e espiritual, tendo professado solenemente. Já no noviciado exprimira o desejo de partir para as missões. Mas, continuou a sua formação cultural e licenciou-se em História, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1966. Na elaboração da Tese de Licenciatura, que defendeu de forma brilhante, contou com a orientação do Prof. Doutor Joaquim Veríssimo Serrão. Tendo sido convidada pelo mesmo para assistente da Faculdade, declinara o convite em favor da causa religiosa e missionária Partindo para Moçambique exerceu diversas actividades pedagógicas na Congregação, foi Directora do Colégio-Liceu de Nossa Senhora da Conceição, em Vila Pery (actual Chimoio), na Diocese da Beira. Fez parte do Governo Provincial, tendo colaborado na redacção do texto preparatório das Constituições Gerais, depois aprovadas pela Santa Sé. Face à instabilidade política vivida em Moçambique, por ocasião da Independência, a Irmã Otília regressa a Portugal em 1976. Impelida por impulso sobrenatural de maior silêncio, oração e intimidade com Deus, pediu para ingressar nas Irmãs Clarissas, sendo recebida no Mosteiro de Fátima a 11 de Agosto de 1977. A Ir. Otília manifestava grande apreço pelas suas Irmãs. Era extremamente delicada e prontificava-se para colaborar com verdadeiro amor fraterno. Punha todo o empenho em ajudar as Irmãs nos seus trabalhos, contribuindo para o aprofundamento e conhecimento do carisma e para a sua formação cultural. Manifestava grande amor aos fundadores e à espiritualidade franciscana. Transbordava em palavras de louvor e gratidão a Deus pelo dom da vocação. Artista de grande sensibilidade, manifestava nos trabalhos manuais e na pintura a beleza que trazia esculpida na alma. Por ocasião do 8º Centenário de Santa Clara de Assis, nos anos de 1993-1994, despertou para a necessidade de dar a conhecer a história das Irmãs Clarissas em Portugal, bem como da sua espiritualidade. Estes trabalhos foram sendo publicados, entre outros, nos Cadernos de Espiritualidade Franciscana. Com dotes reconhecidos na vertente histórica, em Julho de 1997 a Ir. Otília veio à Madeira para ajudar nas celebrações dos 500 anos da presença das Clarissas na Madeira e proferir uma conferência sobre o tema. Aqui desenvolveu a pesquisa histórica para a feitura do livro sobre as Clarissas e a Madre Virgínia. O Governo Regional da Madeira reconheceu-lhe o talento histórico-científico, assumindo a publicação do livro que preparara sobre “As Clarissas na Madeira” e da Tese de Licenciatura em História (1). A convite do então Bispo da Diocese do Funchal, D. Teodoro de Faria, regressou novamente à Região para trabalhar no Processo Canónico da Madre Virgínia da Paixão, da Ordem de Santa Clara. Como historiadora integrou a Comissão Histórica, dedicando-se apaixonadamente a esta causa. Foi verdadeiramente a alma do Processo, desempenhando com muita competência o trabalho que lhe foi confiado. Nos últimos tempos os sofrimentos agravaram-se e a medicina não conseguiu debelar o mal. Já na fase terminal, sem forças e muito fragilizada, deu continuidade ao trabalho, concluindo a recolha de todos os documentos que se referiam à Madre Virgínia, clarissa madeirense. Apresentou o seu trabalho ao novo Bispo do Funchal, D. António Carrilho, lamentando não poder realizar a crítica histórica do mesmo. Acometida de doença grave, e apesar dos grandes sofrimentos, procurou sempre não incomodar. Sofria muito mas não se queixava; e facilitava o trabalho das Irmãs, edificando-as com o seu exemplo de aceitação e de entrega sem limites nas mãos de Deus. A sua única preocupação era ser fiel até ao fim e fazer sempre a vontade de Deus. Sabendo que todos os Mosteiros e amigos rezavam pelas suas melhoras, pedindo a intervenção da Madre Virgínia, disse-me: O milagre que peço à Madre Virgínia é a aceitação do momento presente. À querida Irmã Otília, a nossa eterna gratidão e comunhão no Senhor da Vida. Parafraseando S. Clara de Assis: Louvado sejais, Senhor, por a terdes criado! Hoje, dia 28 de Novembro, a Missa Exequial e funeral decorrerão na Paróquia de Mairos, em Chaves, às 14.30 horas, sendo presidida pelo Bispo de Bragança-Miranda, D. António Montes que, juntamente com a Ir. Otília, fazia parte da Comissão Histórica no Processo de Canonização da Madre Virgínia. Irmã Adelaide Maria da Cruz, osc Presidente da Federação das Clarissas de Portugal (madrevirginia@gmail.com) NOTAS 1 – Obras da sua autoria: Portugal em Marrocos na época de D. João III. Abandono ou permanência?, Ed. Secretaria Regional do Turismo e Cultura/Centro de Estudos de História do Atlântico: Funchal 1998; As Clarissas na Madeira. Uma presença de 500 anos, Ed. Centro de Estudos de História do Atlântico/Secretaria Regional do Turismo e Cultura: Funchal 2000; Madre Virgínia, uma vida de amor, Ed. Irmãs Clarissas: Sintra 2002; Uma Mensagem para a Igreja. Síntese Biográfica de Madre Virgínia Brites da Paixão (1860-1929), Ed. Secretariado de Canonização: Câmara de Lobos 2004; PRUDÊNCIO DA COSTA, Padre João, Apontamento Biográfico de Madre Virgínia Brites da Paixão (1860-1929), (Leitura, coordenação e notas de Otília Rodrigues Fontoura), Ed. Secretariado de Canonização: Câmara de Lobos 2005. Para além destas obras proferiu conferências e publicou artigos de temática franciscano-clariana em várias revistas da especialidade.

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