Impacto de Fátima

O efeito que há 90 anos as aparições de Fátima têm tido é mais vasto do que quaisquer outras aparições posteriores ao Evangelho. A sua mensagem é espiritual e o seu impacto mais relevante dá-se no coração e na alma das multidões que, ao longo das décadas se converteram, sacrificaram e rezaram o terço devido aos pedidos de Nossa Senhora. Mas no campo directamente político esse efeito também foi notório. A sua influência, aliás, foi súbita, pois a presença da Senhora coincidiu com mudanças decisivas na história de Portugal e do mundo. Os dois acontecimentos mais relevantes do início do século XX são a quebra do isolamento norte-americano, com a entrada a 2 de Abril de 1917 na Grande Guerra, e a “revolução de Outubro” que criou a URSS, a 6 de Novembro de 1917. Assim nasceram as duas super-potências que haveriam de determinar o século. Ora entre ambos os factos, deram-se as seis visitas da Senhora, que veio falar da guerra, da Rússia e dos pecados do mundo. Vinte e cinco anos depois, a 31 de Outubro de 1942, quando o papa Pio XII cumpriu o pedido feito em Fátima de realizar a consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, mais uma vez esse acto se situou entre os acontecimentos mais relevantes da época. Estava-se em plena II Guerra Mundial, e as forças nazis ganhavam todas as batalhas desde 1939. Mas a 23 de Outubro de 1942 começou a investida britânica em El Alamein no Egipto, e a 19 de Novembro do mesmo ano iniciava-se o contra-ataque soviético em Estalinegrado. Estas duas batalhas marcaram, para todos os analistas, a inversão estratégia da guerra que levou três anos depois à vitória da democracia. Aconteceram precisamente no momento da consagração. Finalmente, quando o papa João Paulo II soube que à consagração feita por Pio XII faltara o requisito da união com todos os bispos do mundo, e decidiu consumá-la, novos efeitos sucederam. A 25 de Março de 1984 todo o episcopado fez a dita consagração juntamente com o papa, no Vaticano, diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima da capelinha da Cova da Iria, levada pela primeira vez propositadamente a Roma. Menos de um ano depois, a 11 de Março de 1985, Mikhail Gorbatchov foi eleito primeiro secretário do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética e começou a sequência de eventos que mudou completamente o mundo e ainda hoje confunde os especialistas. Também em Portugal, os factos de Fátima se entrelaçaram com a história. O último Governo Afonso Costa foi empossado a 25 de Abril de 1917 e agravou a perseguição à Igreja que era o tom político desde 1910. Mas no dia seguinte à última aparição, a 14 de Outubro de 1917, as eleições em Leiria foram vencidas pelos católicos por 750 votos. Anunciava-se o fim da sanha anticlerical, que se verificaria a 5 de Dezembro desse mesmo ano com o golpe de Estado chefiado por Sidónio Pais, que acabou com o regime ateu. O novo governo decidiu, entre outras medidas, logo a 22 de Fevereiro de 1918 a revisão da Lei da Separação entre o Estado e a Igreja e a 9 de Julho de 1918 reestabeleceu as relações diplomáticas com a Santa Sé. Mesmo depois de Sidónio ser assassinado, o novo clima manteve-se, aliviando a pressão sobre a Igreja. Todas estas coincidências podem não ser mais do que isso: coincidências. O Céu é sempre suficientemente discreto para permitir sempre várias interpretações das suas acções. O que não há dúvida é que os temas de que tratou Fátima são centrais à dinâmica do mundo neste tempo. E muitos foram os que adoptaram a terapêutica que a Senhora recomendou para esses males: oração, penitência e emenda de vida. João César das Neves, Professor da UCP

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