Encontro da Fraternidade, organizado pela Rede «Cuidar da Casa Comum» de Santa Isabel, quis «escutar sem opinar», para quebrar «preconceitos» e conhecer realidade de quem emigrou e procurou melhores condições de vida
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Lisboa, 08 fev 2025 (Ecclesia) – Suelen e Júnior são um casal, com dois filhos – um de sete e outro com 18 – que saíram do Brasil por causa da insegurança provocada por organizações criminosas, e afirmam que vieram para “somar”.
“Viemos para somar. A nossa emigração foi a melhor escolha para a nossa família. Trazer os nossos filhos para um ambiente onde eles vão ter uma melhor qualidade de vida, melhores oportunidades, onde eu e o meu marido podemos saber que eles vão sair e voltar, em segurança, tranquilos, E não ficar com o coração apreensivo por sofrer um assalto à mão armada ou o risco de perder a vida por causa de um telemóvel”, conta Suelen.
A família tinha uma vida “estável” no Brasil: “Não éramos ricos, mas vivíamos estáveis. O meu marido é funcionário público e eu tinha uma loja de roupa infantil. Só que infelizmente onde a gente morava estava acontecendo e ainda acontece guerra de fações”, recorda.
Tráfico de drogas, assaltos, e violência, conduzidos por organizações criminosas que “controlam praticamente toda a região”, não deixavam liberdade para viver a vida, e estava a causar “ataques de ansiedade” ao filho mais velho.
A partilha do casal aconteceu no Encontro da Fraternidade, organizado pela Rede «Cuidar da Casa Comum» de Santa Isabel, que quis “escutar os imigrantes”.
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Rita Reino Assunção recorda que “mais importante que a imigração” é a “fraternidade humana”.
“Mais do que olharmos para as diferenças, é preciso viver na Fraternidade”, indica a membro da Rede «Cuidar da Casa Comum», da paróquia de Santa Isabel, em Lisboa, nascida do contexto sinodal na Igreja católica.
Convidando os presentes a “escutar apenas e não a opinar”, o desafio era “saber, de viva voz, o que é que é para os que chegam a fraternidade”.
“Eu acho que o povo português, por norma, é acolhedor, mas, neste momento, ouvem-se muitas vozes que nos preocupam. E vozes dentro da Igreja, dos cristãos, e vozes fora. E achamos que temos a obrigação de combater esse fechamento e esse olhar para dentro e deixar de olhar para os outros e para a Fraternidade”, reconheceu.
Catarina Dias, do grupo organizador, lamenta à Agência ECCLESIA uma discurso “polarizado”, “agressivo, de ódio em relação ao diferente” que importa “desmistificar”.
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“Este discurso afasta-nos uns dos outros, não cria pontos entre todos e o nós já não somos só nós portugueses que nascemos aqui, o nós são as pessoas que também vêm para cá viver, sejam de outros continentes, sejam mesmo europeus, que têm outras culturas, outra forma de estar e que querem fazer a sua vida em paz e de uma forma feliz aqui, têm todo o direito”, explica.
A responsável fala numa “urgência” no combater preconceitos e afirma que “como católicos e seres humanos”, não é esta a forma como querem viver.
“Os preconceitos alimentam muito o medo e a ignorância. Por isso queremos criar este espaço para que as pessoas possam conhecer tirar preconceitos, tirar ideias pré-concebidas que só criam muros e só criam um afastamento. Não é isso que nós queremos viver enquanto católicos ou enquanto seres humanos”, explica.
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Suelen e Júnior dão conta da dificuldade em emigrar, de “deixar a família, a casa, ir para outro lugar e começar do zero”: “Viemos com medo, viemos receosos, porque é um lugar com uma cultura completamente diferente, é um lugar completamente diferente. Mas a gente viu que naquele momento era o melhor para a nossa família, como um todo. Não só para nós, mas como os nossos filhos”.
Em Portugal, perante a crise habitacional não conseguiram ter casa própria e durante algum tempo viveram em dois quartos alugados, tendo posteriormente tentado o alugar uma casa mas foram enganados pelo proprietário.
Ajudados pela Fundação Santa Rafaela Maria, das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, o casal dá conta da “humanidade” que encontrou e afirma-se “grato” por hoje não pensar em regressar ao Brasil, mas perceber que pode sonhar a sua vida em Portugal.
“A maioria dos imigrantes são famílias. A gente quer buscar uma coisa melhor. Se eu quisesse ser violento, eu iria ser no melhor país para ser violento. 99% do povo português é acolhedor. Vocês são muito acolhedores”, finalizam.
HM/LS
Lisboa: Encontro da Fraternidade vai promover a escuta de imigrantes