Atualmente, parece «estar tudo ou quase nas mãos dos núncios apostólicos, que muitas vezes, não conhecem as dioceses, a sua história, possibilidades e problemas, e nem parecem dispostos a alargar o seu círculo de conselheiros», escreveu D. António Marcelino
No projeto de renovação e aggiornamento da Igreja, que o Papa João XXIII propôs como primeiro objetivo do II Concílio do Vaticano (1962-65), a hierarquia eclesiástica e o seu exercício “deviam merecer, tal como de fato aconteceu, uma especial atenção”.
Num artigo escrito na revista Communio (julho/setembro de 2012), D. António Marcelino, bispo falecido em outubro de 2013, realça que a teologia do episcopado tem sido “esquecida ou menosprezada”. Para o prelado que foi bispo de Aveiro, os bispos “não são executores das ordens do Papa, nem seus servidores ou ajudantes. São seus irmãos, como insistia Paulo VI em proclamar”.
No artigo «Episcopado e missão Pastoral. Interrogações e Missão Pastoral», D. António Marcelino sublinha que vale a pena, em clima de jubileu conciliar, “tomar consciência das contradições e desgarramentos em que se foi caindo, voltando a tempos idos que o II Concílio do Vaticano quis e quer purificar, fazendo-os esquecer”.
Quando os bispos portugueses realizam a sua visita «Ad Limina» convém recordar algumas palavras do prelado português. Em relação à escolha dos candidatos ao episcopado, D. António Marcelino disse que esta é “cada vez mais comandada de Roma e posta nas mãos dos núncios apostólicos, por vezes deixando de lado, em matéria de tanta importância, o parecer de bispos locais”.
No mesmo artigo, o bispo de Aveiro critica também o papel desempenhado pelas conferências episcopais. Apesar de estarem “mais próximas das pessoas e das realidades”, as conferências episcopais “pouco mais fazem que distribuir papéis vindos de Roma, ficando cada vez mais, por culpa ou por inércia, vazias de uma ação eclesial concreta”.
Ainda esta semana, o Papa Francisco deu um exemplo concreto quando decidiu reformar o processo canónico para as causas de declaração de nulidade de matrimónios celebrados na Igreja Católica, tornando-se mais simples e breves, com maior poder de decisão para os bispos diocesanos.
Atualmente, parece “estar tudo ou quase nas mãos dos núncios apostólicos, que muitas vezes, não conhecem as dioceses, a sua história, possibilidades e problemas, e nem parecem dispostos a alargar o seu círculo de conselheiros”, escreveu D. António Marcelino. E acrescenta: “Está-se introduzindo, agora, o costume de ser o núncio a ler, no momento da ordenação, a Bula Papal, e até, em países conhecidos, diz-se, a quererem ou insinuarem que gostavam de ser eles a ordenar os novos bispos…”.
Segundo o prelado português, estes juízos críticos “não pretendem senão constituir material de reflexão, também a nível de povo de Deus, que não se deve considerar alheio a estes problemas”. O II Concílio do Vaticano continua interpelador, mas há muito caminho a fazer de criatividade pastoral.
LFS