II Concílio do Vaticano: Um tomista que não foi ouvido

Defensor da Justiça em favor dos “mais fracos e oprimidos”, D. Sebastião Soares de Resende (1906-1967) promoveu a “educação da juventude das missões com milhares de escolas primárias” e idealizou para Moçambique uma sociedade “integrada de raças e cidadãos iguais, perante a lei, apesar das diferenças”.

Defensor da Justiça em favor dos “mais fracos e oprimidos”, D. Sebastião Soares de Resende (1906-1967) promoveu a “educação da juventude das missões com milhares de escolas primárias” e idealizou para Moçambique uma sociedade “integrada de raças e cidadãos iguais, perante a lei, apesar das diferenças”.

Após o ciclo formativo na «cidade eterna» é convidado para professor no Seminário Maior do Porto. Aí, lecciona as cadeiras de Teologia Sacramental e Filosofia. Aos 28 anos foi convidado para vice-reitor do referido seminário e dois anos mais tarde (1936) o bispo do Porto nomeia-o membro do cabido. Um antigo aluno do homenageado, o Pe. Manuel Leão – também natural de Milheirós de Poiares – sublinha no artigo “D. Sebastião Resende – Uma Evocação, no seu Centenário” que o prelado era um “ferrenho tomista”. A filosofia de Aristóteles passando “pelos trabalhos de S. Tomás de Aquino entusiasmou D. Sebastião” – (in: Revista «Villa da Feira – Terra de Santa Maria» de Fevereiro de 2006). O último ano do Pe. Manuel Leão no Seminário Teológico foi também o último ano do vice-reitor, que, entretanto, foi nomeado (21 de Abril de 1943) bispo da Beira.

Deixou a metrópole e foi evangelizar “um laboratório de problemas novos que entusiasma as inteligências mais vigorosas” – (In: Carta ao Pe. Manuel Valente de Pinho Leão – datada de 19 de Março de 1946). Esta troca de correspondência entre estes dois filhos de Milheirós de Poiares dá autoridade ao Pe. Manuel Leão para afirmar que “pude acompanhar as iniciativas extraordinárias próprias dum homem de ideias, com uma atividade incansável que marcou um lugar paradigmático nas missões pastorais, na educação e imprensa. O vasto horizonte em que esteve situada a sua vida apostólica fê-lo deixar para trás certas visões acanhadas que os muros do Seminário continham” – (in: D. Sebastião Resende – Uma Evocação, no seu centenário). Num artigo para a referida revista Vila da Feira, António Almeida Santos, Presidente da Assembleia da República de Novembro de 1995 a Abril de 2002, sublinha que “foi pena, muita pena, e uma grande perda para Portugal, que a sua voz não pudesse ter sido ouvida. Se o fora, o desastre que foi o fim da nossa saga colonial, teria sido evitado”.

Em 26 de Janeiro de 1967 (morreu no dia anterior) podia ler-se no «Diário de Moçambique»: “… Homem voltado para a realidade do seu tempo, o Senhor Bispo da Beira foi, sob muitos aspectos, um percursor do avanço social verificado na África Portuguesa… algumas das suas pastorais e muitas peças da sua pregação constituíram gritos de autêntico profeta…”.

LFS

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