II Concílio do Vaticano: Quando acabou o clima de asfixia intelectual

Dos livros mais censurados figuram os relativos à história da Igreja e à exegese bíblica. O Santo Ofício e a Comissão Bíblica (criada pelo Papa Leão XIII para promover os estudos nesta área) encarregaram-se de excluir da leitura importantes obras publicadas na última parte do século XIX e inícios do século passado. Questões vitais para a interpretação de determinados livros bíblicos (Pentateuco, Salmos, Isaías, Sinópticos e São João) eram sempre objeto de grande vigilância por parte dos responsáveis da Igreja.

O II Concílio do Vaticano encerrou no mês de dezembro de 1965, mas só no ano seguinte (14 de junho), se abria para muitos católicos uma nova fase com a abolição do índice dos livros proibidos.

Na passada semana fiz referência a livros de intelectuais e filósofos que foram apanhados na rede das proibições. Desta vez, irei entrar no campo da história da igreja, exegese e teologia. Os catálogos dos livros proibidos começaram a surgir em Paris (1544); Veneza (1549); Lovaina (1550); Florença (1552) e Milão (1554). Mas “o primeiro índice de livros proibidos de origem papal só aparece em 1559 quando presidia aos destinos da Igreja o Papa Paulo IV” revela Manuel Augusto Rodrigues num artigo publicado no jornal «Correio de Coimbra» (22-08-96).

Depois surgiram mais de 40 índices atualizados. A inquisição e os tribunais diocesanos representaram outro meio de controlar o livro e aquele que lia a obra. Em Portugal, o primeiro rol de livros defesos apareceu em 1547; em 1561, 1581 e 1642 foram promulgados outros índices expurgatórios. Com o Papa Leão XIII, dado o cada vez maior número de livros proibidos, determinou-se (1896) que deixavam de o ser os que foram editados antes de 1600.

No caso de um livro ser proibido, os católicos não podiam lê-lo nem editá-lo, nem vendê-lo ou guardá-lo. Semelhantes atitudes eram consideradas pecado e, por vezes, os seus promotores eram excomungados. Mas sucedia que uma pessoa podia pedir uma autorização especial para ler determinado livro condenado por motivos especiais e então o ordinário diocesano podia conceder a dispensa requerida. “Os teólogos e filósofos eram os mais interessados em obter tal concessão”, escreveu Manuel Augusto Rodrigues.

Dos livros mais censurados figuram os relativos à história da Igreja e à exegese bíblica. O Santo Ofício e a Comissão Bíblica (criada pelo Papa Leão XIII para promover os estudos nesta área) encarregaram-se de excluir da leitura importantes obras publicadas na última parte do século XIX e inícios do século passado. Questões vitais para a interpretação de determinados livros bíblicos (Pentateuco, Salmos, Isaías, Sinópticos e São João) eram sempre objeto de grande vigilância por parte dos responsáveis da Igreja.

No fundo era a busca da autenticidade da verdade revelada que se procurava por meio do contributo da razão e da ciência. Teólogos como Congar, Chenu, Rahner, Schillebeeckx e Kung merecem ser evocados neste contexto pelo corajoso trabalho desenvolvido tantas vezes sob o “olhar céptico e até mesmo condenatório de Roma”, lê-se no artigo citado. Com o desaparecimento do índice de livros proibidos em 1966 encerrou-se uma página da história da Igreja que teve implicações de vária ordem na vida das instituições e das pessoas.

De notar que, em geral, os seus autores não tinham oportunidade de pessoalmente se poderem defender em Roma, esclarecendo, por exemplo equívocos de interpretação. A condenação assentava apenas na obra escrita pelo seu autor. Um clima de asfixia intelectual pairava sobre os espíritos.

LFS

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Agência ECCLESIA

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