II Concílio do Vaticano: O papel dos leigos na descristianização crescente

O teólogo dominicano, frei Bento Domingues, que todos os domingos nos presenteia no jornal «Público», um comentário sobre a realidade eclesial salienta, no artigo da revista «Brotéria», que os documentos conciliares são o fruto de muitas reflexões de “alguns pioneiros que sofreram e lutaram no meio de angústias e incompreensões”

Com o II Concílio do Vaticano (1962-65), os leigos ganharam preponderância no seio da Igreja. Depois das reflexões desta assembleia magna, convocada pelo Papa João XXIII, os documentos publicados referem com frequência a «promoção do laicado». Num artigo da revista «Brotéria» de Setembro de 1965, frei Bento Domingues refere que a expressão «promoção do laicado» é em si “equívoca” na medida que adianta duas suposições.

“A Igreja precisa dos leigos, a fim de enfrentar situações novas em que se acentua um processo de descristianização crescente” e para tal promove os leigos, isto é, “confere-lhe um lugar e uma missão mais latos, sem outras preocupações”, mas também pode acontecer que, “por força de uma maior consciencialização” da sua situação face ao mundo, a igreja sinta agora a “necessidade de uma redescoberta do laicado e do seu lugar e funções eclesiais, o que pressupõe a redescoberta de uma eclesiologia”, escreveu o teólogo dominicano na revista «Brotéria».

No artigo, intitulado «Os leigos na igreja», frei Bento Domingues sublinha que os documentos conciliares colocam o leigo noutro patamar. Apesar de todos os equívocos “reais ou imaginários”, dois pontos merecem ser considerados: “Os leigos desempenham, ou têm de desempenhar, uma missão; e, segundo ponto, uma missão no mundo”. Neste contexto, admite-se que nem o mundo nem os leigos são destituídos de significação na Igreja. A descoberta deste significado ou as tentativas feitas para tal descoberta foram motivadas pela própria “situação de impasse em que a Igreja se encontrava face ao mundo”, situação essa que, aliás, ditou todo um reexame teológico da natureza da Igreja e da sua missão, da hierarquia, do sacerdócio, do laicado, do mundo e das suas mútuas relações.

Para tal, para apreciarmos o alcance de uma “apresentação correta da Igreja”, basta comparar a imagem que esta tinha antes do II Concílio do Vaticano e aquela que, hoje, nos transmite a constituição «Lumen Gentium». O filósofo francês, Edouard le Roy (1870-1954) chegou a referir-se aos leigos, antes da assembleia magna, que “os simples fiéis não têm senão o papel dos cordeiros da Candelária: benzem-nos e tosquiam-nos”.

O teólogo dominicano, frei Bento Domingues, que todos os domingos nos presenteia no jornal «Público», um comentário sobre a realidade eclesial salienta, no artigo da revista citada, que os documentos conciliares são o fruto de muitas reflexões de “alguns pioneiros que sofreram e lutaram no meio de angústias e incompreensões”. Frei Bento Domingues sabe do que fala…

LFS

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