II Concílio do Vaticano: O odor do mar nas veias de D. Manuel Trindade Salgueiro

Quando se aproximava o início da IV sessão do II Concílio do Vaticano, faleceu D. Manuel Trindade Salgueiro, arcebispo de Évora, com 67 anos de idade. Este bispo, natural de Ílhavo, foi um dos participantes portugueses na assembleia magna convocada pelo Papa João XXIII e continuada por Paulo VI.

Quando se aproximava o início da IV sessão do II Concílio do Vaticano, faleceu D. Manuel Trindade Salgueiro, arcebispo de Évora, com 67 anos de idade. Este bispo, natural de Ílhavo, foi um dos participantes portugueses na assembleia magna convocada pelo Papa João XXIII e continuada por Paulo VI.

Este prelado, que nasceu 1898, fez os estudos no Liceu de Aveiro e no Seminário de Coimbra onde concluiu o curso teológico. Era também licenciado em Direito Canónico e doutorado em Teologia pela Universidade de Estrasburgo. Ficaram célebres as suas homilias dominicais na Sé Nova de Coimbra e na Igreja de São Domingos de Lisboa, das quais foi o 1º volume (1944), sob o tema «Mensagem Cristã».

Nas sessões conciliares, o arcebispo de Évora (1955-1965) teve três intervenções orais. Uma sobre «Mensagem a enviar ao mundo», outra sobre o segundo capítulo do esquema «De Sacra Liturgia» e, por fim, uma intervenção sobre o esquema «De Ecclesiae Unitate».

O bispo de Aveiro, D. Manuel de Almeida Trindade, conheceu bem o arcebispo de Évora e faz-nos uma bela descrição da personalidade deste homem de Ílhavo. Era alto, franzino e quase transparente. “Tenho nos ouvidos o timbre da sua voz, a que o gesto nervoso e amplo mais vivacidade emprestava”, relatou o bispo de Aveiro que faleceu em agosto de 2008.

“Parece-me sentir ainda a cadência dos seus passos, que o faziam adivinhar ao longe. A frase de Pascal, que ele tantas vezes citou na vida: «I'homme c'est un roseau…» o homem é uma cana, mas uma cana que pensa, quase que se lhe poderia aplicar à letra.

A encimar aquele “corpo débil, que uma aragem faria vergar, havia uma cabeça – uma bela e inconfundível cabeça. Ela era o espelho da sua personalidade”, escreveu D. Manuel de Almeida Trindade sobre o padre conciliar.

Quando esteve em Coimbra, D. Manuel Trindade Salgueiro publicou «Apontamentos de Oratória Sagrada» (1929) e também algumas orações fúnebres: D. Manuel Coelho da Silva; rainha D. Amélia; D. Marcelino Franco; Pio XII e João XXIII.

Num artigo publicado na «Um século de cultura católica em Portugal», Filipe Figueiredo escreveu que D. Manuel Trindade Salgueiro “era uma inteligência lúcida, uma pena brilhante, um orador que arrebatava e encantava, pelo estilo fulgurante e pela firmeza da doutrina”.

“D. Manuel Trindade Salgueiro foi um homem de Ílhavo. Dizer que foi um homem de Ílhavo é dizer que foi um homem que trazia o mar no coração e nas veias. Se se encostasse o ouvido ao seu peito, talvez se ouvisse dentro dele, como acontece aos búzios, o murmúrio das ondas”, completou D. Manuel de Almeida Trindade.

LFS

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