II Concílio do Vaticano: O despertar da identidade laical por Yves Congar

Depois de quase vinte séculos de história da Igreja, o II Concílio do Vaticano (1962-65) foi o primeiro a reflectir teologicamente sobre a identidade laical. No entanto, a sua doutrina está enquadrada no caminho, iniciado anteriormente, de uma progressiva consciencialização para esta questão.

Depois de quase vinte séculos de história da Igreja, o II Concílio do Vaticano (1962-65) foi o primeiro a reflectir teologicamente sobre a identidade laical. No entanto, a sua doutrina está enquadrada no caminho, iniciado anteriormente, de uma progressiva consciencialização para esta questão.

Na obra «A identidade laical à luz do Concílio» a autora, Teresa Martinho Pereira, realça que o empenhamento dos leigos na Igreja e no mundo “levantou sérias questões teológicas” que permaneceram até ao concílio convocado pelo Papa João XXIII. O contributo dos teólogos para o seu esclarecimento foi “decisivo”, tanto mais que uma “grande parte daqueles que começaram a reflectir a questão exerceram uma influência directa nos textos conciliares”. De entre estes, destacam-se Yves Congar, Gerard Philips, Karl Rahner e Edward Schillebeeckx, que valem também como exemplos da reflexão pré-conciliar nesta matéria.

A primeira obra realmente significativa para a teologia do laicado é da autoria de Yves Congar (Jalons pour une théologie du laicat) e data de 1952. “Pode dizer-se que a sua obra marca a passagem de uma reflexão espiritual sobre o laicado para uma autêntica teologia”, escreveu Teresa Martinho Pereira na obra editada pela Universidade Católica Portuguesa e que integra a colecção «Nova SPES».

Yves Congar insiste na necessidade de valorizar a identidade positiva dos leigos uma vez que, na sua opinião, ao longo dos séculos, estes foram vistos “numa perspectiva demasiado negativa, isto é, apenas como aqueles que não pertencem ao clero nem são religiosos”. Além disso, a visão da sua ligação ao mundo era carregada “de negativismo, pois considerava-se que este era o domínio do maligno” (Cf. Congar; «Jalons pour une théologie du laicat»).

O teólogo francês (Sedan, 8 de abril de 1904 — Paris, 22 de junho de 1995) realça o lugar activo de “todos os crentes no conhecimento e na defesa da verdade utilizando como exemplo a teologia do «sobornost», desenvolvida no seio das próprias Igrejas ortodoxas”. De acordo com este conceito, “só é possível alcançar o conhecimento verdadeiro da fé através da comunhão total” (Cf. «A identidade laical à luz do Concílio»). Neste sentido, «sobornost» pode traduzir-se por colegialidade, já que “exprime a complementaridade e reciprocidade na comunidade, em ordem ao conhecimento da verdade”.

A participação dos leigos na realeza de Cristo sobre o mundo exprime-se no “compromisso evangélico de estabelecer o Reino de Deus pela sujeição de todas as coisas ao Seu Espírito”. A presença cristã no mundo constitui, portanto, um traço essencial da identidade laical.

A acção dos leigos é ainda um testemunho explícito de Jesus Cristo, uma vez que também estes têm a missão de evangelizar o mundo, “quer através do anúncio da Boa Nova, quer através da denúncia do pecado”.

LFS

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