II Concílio do Vaticano inaugurou «nova era»

O II Concilio do Vaticano abriu uma “nova era” e “pôs fim a uma época tridentina, se não mesmo constantiniana, apesar da atribulada receção”, disse à Agência ECCLESIA o bispo português, D. Carlos Azevedo, ao comentar a reunião magna convocada pelo Papa João XXIII.

O II Concilio do Vaticano abriu uma “nova era” e “pôs fim a uma época tridentina, se não mesmo constantiniana, apesar da atribulada receção”, disse à Agência ECCLESIA o bispo português, D. Carlos Azevedo, ao comentar a reunião magna convocada pelo Papa João XXIII. Para o prelado, a exercer funções no Conselho Pontifício da Cultura (organismo do Vaticano), o “estilo discursivo” do II Concílio do Vaticano de apresentação da fé é “inovador” porque se “procurou uma exposição afirmativa”, mas “não anatemática”.

Os concílios anteriores “condenaram” algumas afirmações, ao contrário do atual que apresenta uma “proposta cristã” sem condenar ideias diferentes, sublinhou. Com uma “linguagem clara”, o II Concílio do Vaticano apresenta “um estilo novo” para textos conciliares.

No seu todo, a Igreja “não tinha maturidade teológica” para fazer uma adaptação à cultura do tempo e, por isso, foi necessário que “uma minoria preparada” orientasse e, “o sensus fidei dos bispos” fossem capazes de aderir a essa proposta feita, revelou o atual coordenador do setor do património no Vaticano. E acentua: “Essa minoria foi capaz de ter o senso do futuro, perceber os sinais dos tempos e encontrar a linguagem mais correta e eficaz”.

Alguns documentos conciliares foram aprovados com votos contra porque, segundo D. Carlos Azevedo, havia “também uma minoria que puxava para trás e queria um estilo e linguagem neoescolástica”. Essa minoria mais conservadora queria uma “teologia imobilista e com uma fixidez de palavras e formulações que o mundo já não captava”.

A preocupação pelo destinatário da mensagem para que esta possa ser captada foi uma “grande intuição de João XXIII”. A mensagem “não pode ser um ouriço fechado” e incapaz de ser entendida, afirmou o bispo português.

O pensamento tomista tem sido sujeito a releituras ao longo dos tempos até porque é “mais aberto do que aquilo que se pensa”, adiantou. Quando se lê a Summa Theologica (obra de São Tomás de Aquino), as posições defendidas ” com uma linguagem aristotélica ” tinham como destinatários a base da cultura do seu tempo.

As culturas emergentes “precisam de ser aproximadas da mensagem” e esse trabalho é a pastoral e a teologia, realçou. Os pastores são chamados a “correr o risco de encontrar palavras” que as pessoas são capazes de acolher.

O termo pastoral “não se opõe” a doutrinal. “Pastoral não se opõe a dogmático”, salientou o atual coordenador do setor do património no Vaticano.

Ao autodefinir-se eminentemente pastoral, o II Concílio do Vaticano quer sublinhar uma finalidade “sui generis”. Aqui está o “espírito particular deste concílio”, encontrar a “pastoralidade da doutrina” (Discurso de abertura de João XXIII).

“Pela primeira vez é convocado um concílio para falar ao mundo e dizer de um modo atual a fé de sempre. Mas fez-se para compreender melhor a fé e procurar uma inteligência coerente da fé, pela conversão, e a manifestar às pessoas do nosso tempo”, concluiu.

LFS

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Agência ECCLESIA

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