Apesar da linguagem tomista (São Tomás de Aquino), D. Sebastião Soares de Resende (Bispo da Beira – Moçambique) e D. António Ferreira Gomes (Bispo do Porto) tiveram intervenções inovadoras nas sessões conciliares porque «essa estrutura mental não os impediu de estarem atentos aos problemas do seu tempo».
Apesar da linguagem tomista (São Tomás de Aquino), D. Sebastião Soares de Resende (Bispo da Beira – Moçambique) e D. António Ferreira Gomes (Bispo do Porto) tiveram intervenções inovadoras nas sessões conciliares porque “essa estrutura mental não os impediu de estarem atentos aos problemas do seu tempo”, sublinhou à Agência ECCLESIA D. Carlos Azevedo, atual coordenador do setor do património no Vaticano.
Ao referir-se ao D. Sebastião Soares de Resende, bispo português natural de Milheirós de Poiares, (diocese do Porto) mas a exercer o seu múnus pastoral em Moçambique, D. Carlos Azevedo realçou que o bispo missionário “sentia problemas muito fortes” com que se debatia no terreno que calcava. “É esse desafio à realidade que os leva a usar uma estrutura mental, mas sem ficarem presos à linguagem dessa estrutura”.
Convocado pelo Papa João XXIII, no II Concílio do Vaticano estes bispos naturais do norte de Portugal encontraram “formulações novas” que fossem de encontro à realidade porque estavam “atentos à sociologia”.
Pelas propostas apresentadas antes de se iniciar (11 de outubro de 1962) o II Concílio do Vaticano, nota-se que os bispos portugueses estavam “a léguas” das preocupações que se faziam sentir no centro da Europa. “Não havia, nos anos cinquenta, a capacidade, – excluindo as escolas de teologia dos dominicanos e dos jesuítas – de resposta para os problemas e para a linguagem das novas perspetivas culturais”, disse D. Carlos Azevedo, delegado do Conselho Pontifício da Cultura (Santa Sé).
Alguns teólogos sofreram o rigor do Tribunal do Santo Ofício com as “propostas inovadoras apresentadas” e mais tarde, “muitas acabaram por ser confirmadas e acolhidas pela Igreja”. “Sofreram uma reação da tal mentalidade imobilista e escolástica”. A história “não avança sem minorias criativas”, no entanto é essencial que estas minorias se unam e não busquem “o protagonismo personalista”, salientou o bispo português.
No II Concílio do Vaticano, os jesuítas e dominicanos eram aqueles que tinham “mais escola [teológica]”, e cita duas figuras fundamentais: “Karl Rahner (jesuíta) e Yves Congar (dominicano)”. Para o coordenador do setor do património no Vaticano, o bispo brasileiro, D. Hélder da Câmara – “não teve nenhuma intervenção no concílio” –, fez “um jogo de bastidores excecional”. Durante os trabalhos conciliares, o bispo brasileiro criou grupos de reflexão para debater “ideias novas” e para que estas “se alargassem a outros que estavam impreparados”.
O conjunto dos padres conciliares brasileiros também tinha “integristas” e “progressistas”, mas, no geral, América latina aderiu “ao centro europeu”, visto que alguns estudaram nessas escolas teológicas. “A América latina foi o grande aliado para o avanço da Teologia”, concluiu.