II Concílio do Vaticano: Clericalismo e anticlericalismo foram sepultados?

Para Bernard Haring, «o clericalismo e o anticlericalismo foram verdadeiro espinho para a Igreja nos últimos séculos». Do complexo problema do clericalismo faz parte também a tentativa dos Papas, dos bispos e dos teólogos da Idade Média para atribuir à Igreja «um poder direto sobre as coisas temporais e governá-las por meios coercitivos espirituais e civis».

Quando se iniciou o II Concílio do Vaticano (1962-65), muitos pensaram que a assembleia magna era uma simples continuação do concílio anterior. Apesar de ter dedicado algum tempo e espaço ao episcopado e ao colégio episcopal, o encontro convocado pelo Papa João XXIII restituiu aos leigos o lugar que lhes pertence na Igreja.

Basta dar uma vista de olhos à frequência com que nos vários documentos conciliares se trata do papel e da tarefa dos leigos, para compreender que a sua posição e a sua missão devem ter sido uma das exigências mais sentidas no seio do II Concílio do Vaticano.

Mesmo se não tivesse sido elaborado um decreto específico sobre o apostolado dos leigos, promulgado a 18 de novembro de 1965, seria suficiente voltar a ler os outros documentos para conhecer a ideia essencial e orgânica sobre este tema. A terminologia habitual dos últimos decénios, antes da realização do II Concílio do Vaticano, identificava em larga escala a hierarquia com a Igreja. “Isto dava pelo menos a impressão de que os leigos se encontravam perante a Igreja, e não dentro dela, com uma dignidade específica e com determinados vínculos e determinadas relações com os titulares dos ministérios e dos ofícios hierárquicos” (Haring, Bernard; «O Concílio começa agora», Lisboa, Edições Paulista). No plano divino, os leigos são membros ativos do Povo de Deus, “não menos do que os bispos e o Papa”, realça a obra deste teólogo redentorista.

Para Bernard Haring, “o clericalismo e o anticlericalismo foram verdadeiro espinho para a Igreja nos últimos séculos”. Do complexo problema do clericalismo faz parte também a tentativa dos Papas, dos bispos e dos teólogos da Idade Média para atribuir à Igreja “um poder direto sobre as coisas temporais e governá-las por meios coercitivos espirituais e civis”. A violenta reação anticlerical que esta tentativa suscitou é “simbolizada pela bofetada dada a Bonifácio VIII”.

O clericalismo foi também uma tentativa para impedir a pesquisa científica usando passos da Bíblia mas interpretados ou fórmulas teológicas. O caso de Galileu teve uma repercussão enorme nesse campo. “Também aquela fórmula teológica que fala do «poder indireto nas coisas temporais» não satisfaz o homem moderno, até porque na prática, os representantes do clero continuam a ocupar muitas posições chaves no campo profano e se imiscuem de muitos modos na vida política, social e cultural, sem que seja possível ver em tudo isto uma exclusiva preocupação pelo bem espiritual”, escreveu Bernard Haring.

LFS

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