II Concílio do Vaticano: Cartas de Roma do cardeal Cerejeira (II)

Segundo o cardeal Cerejeira tem sido difícil, desde há mais dum século, entrar isto na consciência pública. “Sempre têm acusado, entre nós, a Igreja de comprometida com o Estado, os que a desejariam associada na luta política”.

Durante a IV sessão do II Concílio do Vaticano, o cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira escreveu uma dezena de cartas aos diocesanos de Lisboa onde a tónica dominante era a presença da Igreja no mundo contemporâneo. A sua leitura sistemática permite verificar que em quase todas elas, ou se retomam os mesmos pensamentos ou se dão elementos que permitem tornar mais explícito o que foi dito nas anteriores.

Na nona carta dedicada ao tema «Igreja e Estado», este padre conciliar escreve que é “da maior importância”, na sociedade pluralista, ciosa da autonomia do temporal e da maioridade dos cristãos, que “se tenha o justo respeito da relação entre a comunidade política e a Igreja”.

É um princípio conciliar bem assente que “a Igreja, em razão da sua missão e competência, não se confunde nem se enfeuda a nenhum sistema político”. Cada uma, no seu próprio campo, “é independente e autónoma” em relação à outra. Ambas servem, embora por título diverso, “a vocação pessoal e social dos homens”, lê-se na obra «Cartas de Roma» da autoria de Manuel Gonçalves Cerejeira e editada pela «União Gráfica».

Segundo o cardeal Cerejeira – na página 88 da referida obra – tem sido difícil, desde há mais dum século, entrar isto na consciência pública. “Sempre têm acusado, entre nós, a Igreja de comprometida com o Estado, os que a desejariam associada na luta política”. Numa pastoral do episcopado português de 16 de Janeiro de 1959, lê-se que “aquela acusação (assim como a de não interpor a sua autoridade espiritual a favor do Estado) resulta duma confusão: confunde-se a missão própria da Igreja, situada no domínio religioso e moral, com uma missão política de tutela sobre o Estado ou de subordinação ao Estado, qualquer das quais é contra a natureza da Igreja. Num caso e noutro, politiza-se a Igreja e sacraliza-se o temporal”.

Aos padres, Manuel Gonçalves Cerejeira aconselha os padres a ouvirem, conhecerem, compreenderem e sentirem o mundo onde estão inseridos “sem se enfeudarem a ele”. Deverá fazer “figura de não conformista”, “denunciando o pecado, recusando-se a tudo o que seja contra o espírito ou a liberdade da sua missão”.

«A obra do Espírito no Concílio»; «A liberdade religiosa»; «A Igreja no mundo de hoje»; «O padre no mundo de hoje»; «Apostolado dos leigos»; «A esperança cristã», «A liberdade cristã», «Da missão pastoral dos bispos», «A Igreja e o Estado» e «Sob a invocação da Virgem» são os títulos das cartas escritas pelo cardeal Cerejeira, aos diocesanos de Lisboa.

LFS

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