Dois ritmos diferentes de desenvolvimento aliados à concentração crescente da população formam duas sociedades economicamente e sociologicamente distintas: «uma sociedade moderna, em expansão económica e demográfica, e uma sociedade tradicional, estagnada e em retrocesso económico e demográfico, que rodeia a primeira e cujos recursos materiais e humanos são por esta amplamente aspirados».
Nos finais de maio de 1963, os diplomados católicos portugueses reuniram-se para refletir sobre as perspetivas que um cristão pode/deve ter sobre o desenvolvimento económico.
Como o desenvolvimento económico e a evolução social constituem dois aspetos de um mesmo processo evolutivo, Adérito Sedas Nunes, um dos oradores do encontro, destacou algumas das principais transformações que a sociedade portuguesa sofria na altura. Segundo o conferencista, entre 1950 e 1960, enquanto nos quatro distritos de Lisboa, Porto, Aveiro e Setúbal a população aumentou cerca de 12%, contra apenas 4,7% no conjunto do continente. A população de metade dos distritos do continente (Beja, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Faro, Guarda, Portalegre, Viana do Castelo e Viseu) diminuiu. Na década de 60 verificava-se uma concentração crescente da população nas zonas urbanas e circum-urbanas.
Entre 1953 e 1961 o produto nacional bruto aumentou cerca de 77% nas indústrias, 56% nos serviços e apenas 7,2% no sector primário. Verifica-se, assim, ao lado de uma estagnação do sector primário, mormente na agricultura, um desenvolvimento económico relativamente rápido das atividades secundárias e terciárias (indústrias e serviços).
Estes dois ritmos diferentes de desenvolvimento aliados à concentração crescente da população formam duas sociedades economicamente e sociologicamente distintas: “uma sociedade moderna, em expansão económica e demográfica, e uma sociedade tradicional, estagnada e em retrocesso económico e demográfico, que rodeia a primeira e cujos recursos materiais e humanos são por esta amplamente aspirados” (cf. Boletim de Informação Pastoral; nº 26; Setembro-Outubro de 1963, pág 19).
Na conferência, Adérito Sedas Nunes falou da irradiação crescente da sociedade moderna sobre a sociedade tradicional. Esta irradiação opera-se através das vias e meios de transporte melhorados, das trocas comerciais intensificadas, da invasão dos produtos industriais, da publicidade, do turismo e do incremento das comunicações de massa. “Dela resulta o despertar, na sociedade tradicional, de uma consciência de «atraso» e de «oportunidades de melhoria», que ocasiona a formação de novas «aspirações», nos meios rurais, o despontar de uma «consciência de direitos» e, finalmente, apoiada na rarefação de mão de obra agrícola em certas regiões, o aparecimento de «reinvidicações»”. (cf. revista citada).
Esta era a sociedade portuguesa, aos olhos de Adérito Sedas Nunes, na época do II Concílio do Vaticano.
LFS