Quando se comemora o cinquentenário do início do II Concílio do Vaticano (1962-1965), a Igreja vive uma nova primavera com o Papa argentino que escolheu o nome de Francisco. Foi esta escolha, um fruto do concílio convocado por João XXIII?
Quando se comemora o cinquentenário do início do II Concílio do Vaticano (1962-1965), a Igreja vive uma nova primavera com o Papa argentino que escolheu o nome de Francisco. Foi esta escolha, um fruto do concílio convocado por João XXIII? Numa entrevista concedida à Revista «América» (30 de março de 1963) o cardeal Giuseppe Siri, arcebispo de Génova e presidente da Conferência Episcopal Italiana, dizia: “serão precisos cinquenta anos para que se vejam bem os resultados do concílio”.
Ao fazer um balanço da primeira sessão do II Concílio do Vaticano (outubro a dezembro de 1962), o cardeal Siri realça também que certos “frutos importantes” apareceram logo na altura. “Primeiro que tudo, a Igreja vê já mais claramente o trabalho que se lhe apresenta para os próximos cem anos”.
Segundo o presidente da Conferência Episcopal Italiana da altura, “foi uma decisão sábia e providencial” começar o trabalho do concílio pelo estudo do esquema sobre a liturgia. As suas palavras são elucidativas: “o culto de Deus é a nossa função primeira e fundamental, enquanto verdadeiros membros da Igreja”.
Na entrevista traduzida para português (in: Lumen, dezembro de 1963, Fasc XII), o cardeal italiano e padre conciliar sublinha que foi igualmente “providencial” ter estudado a questão “da unidade de todos os cristãos e de todos os homens”.
Ao fazer a antevisão da segunda sessão do concílio, o cardeal Giuseppe Siri salienta que era fundamental “reduzir o número dos esquemas” e apela também aos que escrevem sobre esta assembleia magna para “não se lançarem em conjecturas quanto aos seus resultados”. Em relação aos artigos, publicados em abundância na altura da realização do concílio, o arcebispo de Génova realça que existiam “muitos livros” que apresentavam as questões religiosas “completamente alheios aos sãos princípios da erudição”.
O cardeal Siri – professor de teologia durante muitos anos – acrescenta que alguns autores modernos precisavam “de ser formados nos bons princípios dos estudos históricos”.
Em relação à doutrina social da Igreja e aos problemas sociais que o mundo de então vivia, o padre conciliar declarou que o II Concílio do Vaticano “não tem decretos ou leis a dar sobre este assunto”, visto que ele já foi “profundamente tratado” nas encíclicas dos papas, desde a Rerum Novarum, de Leão XIII, à Mater et Magistra, de João XXIII. Como bispo, o entrevistado realça: “devemos insistir no estudo das encíclicas em vez de fazer uma apresentação em conjunto, deste assunto, no concílio”. No entanto – adianta o cardeal Siri – “seria muito útil que o concílio apresentasse mensagens ou declarações sobre certos problemas sociais”.
“Seria útil que os padres fizessem declarações sobre a paz, sobre a guerra, sobre o interesse que devem merecer as categorias de pessoas desfavorecidas”, disse ao jornalista da revista «América».
A acção caritativa “não poderá desenvolver-se convenientemente senão quando a questão dos direitos for claramente compreendida e aplicada” e conclui: “seria de utilidade, para os que têm de enfrentar certos problemas, que o concílio fizesse uma declaração sublinhando os seus direitos no que respeita a tais problemas, – o direito a um salário vital, por exemplo”.
LFS