Igrejas Lusófonas: Fundação Fé e Cooperação comemora 35 anos de memória, a «olhar para o futuro»

«Sempre analisando cada contexto onde nós estamos, quais são os desafios para construir esse futuro de dignidade nos vários países» – Patrícia Fonseca

Lisboa, 10 set 2025 (Ecclesia) – A Fundação Fé e Cooperação (FEC) está a comemorar os seus 35 anos, o organismo da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) está a “fazer memória da história”, que construiu em Portugal e países lusófonos, e a “olhar para o futuro”.

“Assinalar 35 anos para nós é fazer memória daquilo que é o nosso património de conhecimento, de experiência e de capacidade, muito conhecimento técnico, mas também muito conhecimento das realidades e das pessoas com quem trabalhamos”, disse a diretora-executiva da FEC, em entrevista à Agência ECCLESIA.

Patrícia Fonseca assinala que a dinâmica na Fundação Fé e Cooperação é “ir construindo relação com as pessoas”, com as comunidades onde trabalham e, com elas, “dialogar sobre aquilo que são os desafios presentes”, mas também numa perspetiva de “construir um futuro com dignidade”.

“Sempre analisando aquilo que é cada contexto onde nós estamos, quais são os desafios para que possamos construir esse futuro de dignidade nos vários países, nas várias áreas onde, ao longo destes anos, também nos fomos especializando e tornando-nos também peritos”, acrescentou.

A FEC, Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) da CEP, tem, atualmente, projetos em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal – em áreas como a Educação, Direitos Humanos, Segurança Alimentar e Nutricional, Capacitação Organizacional e Proteção Social, Desenvolvimento Rural, Empreendedorismo Juvenil – e esse trabalho surge “sempre de um pedido”, das autoridades locais ou das Igrejas destes países lusófonos, “de alguma necessidade onde possa ser útil e possa acrescentar conhecimento e capacidades”.

“Este trabalho, desenvolvimento que fazemos, não fica circunscrito àquela comunidade, mas contribui também para o desenvolvimento global e tem impacto noutros países, tem impacto aqui em Portugal e na Europa, se virmos o mundo não em silos, mas de uma forma global.”

Segundo a diretora-executiva da Fundação Fé e Cooperação, depois desse pedido, formam as equipas, “a maior parte das equipas são de pessoas de cada um dos contextos”, contratam também “equipas especializadas” na área de ação, por exemplo, “na Guiné-Bissau, sobretudo na área da educação, em Angola, na área agrícola, em Moçambique, muito na área do desenvolvimento da primeira infância”.

“As nossas equipas trabalham com os parceiros locais, que são outras organizações da sociedade civil, são organizações da Igreja, as autoridades locais, os governos”, explicou Patrícia Fonseca, sobre esta ‘Empresa Familiarmente Responsável’ (EFR), nos quatro países onde atua.

O presidente e administrador-executivo da FEC acrescentou, a título de exemplo, que na Guiné-Bissau trabalham na formação de professores, “em formação de serviço, de cada uma das terras, e no apoio ao Ministério”, projetos, normalmente, “de um âmbito grande” porque querem “transformar a realidade onde vão intervir, não dá para fazer um projeto pequenino de seis meses”.

“Tem uma lógica mais de transformação global daquilo que pretende fazer, e, portanto temos que envolver o Estado Português, com a cooperação de portugueses, os próprios Estados. São trabalhos de grande impacto. Nos últimos anos temos trabalhado com 10 mil professores, especialmente na Guiné-Bissau, mas também em Moçambique, e Angola, portanto, são trabalhos de investimento nas pessoas, investimento numa mudança de cultura”, desenvolveu Jorge Líbano Monteiro, na entrevista realizada no Programa ECCLESIA, transmitido esta segunda-feira, 8 de setembro, na RTP2.

Este responsável explica que são projetos maiores que, “muitas vezes, não são falados no dia a dia, porque não são ajuda de emergência”; o presidente e administrador-executivo da ONGD portuguesa destacou a sua ação em três áreas: “trabalhar diretamente no terreno”, em ‘advocacia social’ e o Encontro de Bispos dos Países Lusófonos, “iniciados há 29 anos”.

Para colocar de pé a ação solidária e de promoção da justiça social, a FEC realiza “um trabalho de resiliência diária”, e Patrícia Fonseca explica que um dos valores e dos pilares “são as parcerias”, todas as intervenções fazem-se “com outros parceiros, cada um na sua área de especialidade e que complementa a ação”.

Cartaz: FEC

“E, depois, temos que, de facto, encontrar quem financie a intervenção que nós fazemos. É um trabalho que não é fácil, é um trabalho difícil, sobretudo no contexto em que vivemos, em que estamos a assistir a cortes na área da cooperação, não é fácil, mas trabalhamos sempre com o sentido da esperança”, referiu a diretora-executiva da FEC.

A ONGD católica da Conferência Episcopal Portuguesa foi criada em 1990, e, no âmbito das comemorações do 35 aniversário, dinamiza o colóquio ‘Fraternidade, novo nome para a Paz’, esta quarta-feira, dia 10 de setembro, entre as 09h00 e as 13h00, no auditório da Rádio Renascença, em Lisboa.

HM/CB/OC

Jorge Líbano Monteiro recordou que a FEC nasceu como Fundação Evangelização e Culturas, pelo padre José Alves Cachadinha, “que tinha uma ligação muito grande a Angola, onde tinha feito toda a sua formação”, e veio para Lisboa para as comemorações dos cinco séculos de evangelização, “e celebrar esse momento importante da história da Igreja”.

“E teve essa intuição da importância de encontrar em Lisboa algo que, no fundo, fizesse a ligação entre as Igrejas Lusófonas, um espaço de partilha, um espaço de referência para poder avançarmos e as próprias Igrejas se ajudarem. Partiu muito da lógica de que era preciso o encontro entre as Igrejas para puderem falar e, no fundo, ultrapassarem todos os problemas relacionados com a independência dos povos também que já tinha alguns anos”, desenvolveu.

O presidente e administrador-executivo da FEC, lembra também a intuição inicial do padre José Alves Cachadinha de fazer, em cada um dos países, “celebrações, fez peregrinações de encontro entre as Igrejas, primeiro em Angola, depois em Moçambique”, e nasceu esta fundação, criada pela Conferência Episcopal Portuguesa e pelos institutos religiosos masculinos e femininos.

“No fundo, representava o desejo da Igreja Portuguesa no seu todo voltar a encontrar-se com as Igrejas Lusófonas, de sarar também as feridas criadas de todo esse processo das independências e, a partir daí, começar a construir algo que pudesse ser útil para todos” – Jorge Líbano Monteiro.

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