Padre Alexandre Palma lembra «milhões de pequenos lava-pés todos os dias escondidos», diz que o silêncio da morte é «um excesso de som» e afirma que a celebração da Páscoa é «profundamente realista»
Lisboa, 25 mar 2024 (Ecclesia) – O padre Alexandre Palma, professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa (UCP), considera que “a Semana Santa é uma forma humana de ser, plenamente reconciliada com o Pai, com Deus”.
“E essa forma humana de ser é viver dando-se. E Jesus vai traduzindo isto de múltiplas formas ao longo da Semana Santa, desde a entrada em Jerusalém, ao lava-Pés, à cruz e até depois nas aparições do ressuscitado”, afirmou o docente, em entrevista.
O sacerdote é o convidado de hoje do Programa ECCLESIA, transmitido na RTP2, onde fez um percurso pelas celebrações da Semana Santa, procurando explicar o significado que têm na vida dos crentes, nestes dias.
O padre Alexandre Palma defende que o lava-pés é um gesto de “uma enorme força simbólica” e que interpreta “muito bem a identidade, o ser de Jesus, a atitude de Jesus perante o Pai e perante a história”.
“Mas também nesta esteira de dois mil anos de cristianismo, mas também o que de cultura cristã impregnou a nossa cultura em sentido mais abrangente, o que nós somos também desafiados, até pelo espírito de Deus, a uma criatividade, isto é, de reinterpretar o gesto do lava-pés, de traduzir o gesto do lava-pés sob muitas outras formas de serviço”, destacou.
Para o sacerdote, “existem expressões, testemunhos realmente acontecidos do lava-pés”, que “não precisam de ser propagandeados”.
“Eu arriscava-me a dizer, a vida como tal não existiria se não houvesse milhares, milhões de pequenos lava-pés todos os dias escondidos e sem esse nome, mas que o são”, frisou.
Sobre a Sexta-feira Santa, dia que a Igreja evoca a morte de Jesus, o padre Alexandre Palma fala que o silêncio neste dia “não é o silêncio da morte e, portanto, o silêncio do vazio, mas é, de alguma maneira, o silêncio da plenitude do próprio som”.
“É como a luz branca, de alguma maneira, é a síntese de todas as cores e, portanto, de toda a paleta cromática. Também o silêncio da Sexta-Feira Santa não é uma ausência de som, é um excesso de som”, assinalou.
No que respeita à celebração da Páscoa, o padre Alexandre Palma entende-a como “profundamente realista”.
“Não há aqui uma narrativa que branqueie as dificuldades da vida. Jesus não fez de conta que morreu. Jesus morreu mesmo. E, portanto, fazendo aqui alguma analogia, as dificuldades da vida, a começar pela guerra, situações de pobreza, de solidão, etc, são reais, tal como a morte de Jesus foi real”, sustentou.
“Não há obstáculo que seja invencível. Não é fácil, supõe luta, supõe sofrimento, supõe, sim, mas não há obstáculo que seja invencível. E que outro fundamento pode a esperança ter, senão este, que no fundo, definitivo, só o próprio Deus e o amor que Deus nos dá. Isto é, diria, o ponto fixo que levanta todo o edifício da esperança”, acrescentou.
Questionado sobre o calendário da Páscoa não coincidir sempre com o calendário da vida de cada um, o padre Alexandre Palma indica que é algo que pode acontecer, mas que a Páscoa é celebrada “todos os dias”.
“É evidente que esta Semana Santa é uma semana, do ponto de vista simbólico, do calendário litúrgico, densifica esta celebração, mas todos os domingos celebramos a Páscoa de Jesus”, mencionou.
No que toca ao facto de a Semana Santa ser associada ao sentimento da tristeza, o professor refere que sendo este um “elemento que que faz parte da vida”, seria “estranho” que estivesse também ausente nestes dias.
“A questão é: É só tristeza? E assim como a vida não é só tristeza, embora também tenha esse elemento, também existe uma celebração da alegria e a Semana Santa é marcada por esta, por esta relação, por este jogo entre tristeza, mas também pela grande alegria que está de alguma maneira no ponto de chegada desta semana, na celebração da Páscoa”, afirmou.
A Igreja Católica celebra entre a tarde de Quinta-feira Santa e a Vigília Pascal os momentos mais importantes do seu calendário litúrgico, que assinalam os momentos da morte e ressurreição de Jesus, culminando na Páscoa.
LS/LJ/PR