Igreja/Universidade: Patriarca de Lisboa lamenta «ausência da teologia no espaço público»

Tomada de posse do novo diretor da Faculdade de Teologia da UCP deixa apelos ao diálogo entre áreas do conhecimento

Lisboa, 16 set 2025 (Ecclesia) – O patriarca de Lisboa disse hoje, na sede da Universidade Católica Portuguesa (UCP), estar preocupado com a “ausência da teologia no espaço público”.

D. Rui Valério falava na tomada de posse do novo diretor da Faculdade de Teologia da UCP, padre Luís Miguel Figueiredo Rodrigues, no edifício da Reitoria, em Lisboa, dando como exemplo da falta de discurso teológico a recente tragédia do Elevador da Glória, na capital portuguesa.

“Senti a ausência da teologia em relação a um drama que tanto envolve a dimensão essencial do ser humano. Vida, morte, sofrimento”, indicou o também magno chanceler da UCP.

Alertando para uma “superficialidade cultural”, o patriarca de Lisboa sustentou que “a teologia tem a responsabilidade de abrir horizontes de ética, obviamente, de despertar a sociedade para a profundidade, para ir mais a fundo do que o vapor ou a bruma dos dias.

D. Rui Valério destacou o valor da teologia, enquanto ciência, e pediu que a mesma promova uma dimensão “sapiencial”.

Segundo a UCP, a Faculdade de Teologia, presente nos polos de Lisboa, Porto e Braga, assume como missão “cultivar e promover, mediante a investigação científica e a docência superior, as ciências teológicas e afins; estudar a doutrina católica, haurida da Revelação divina, e expô-la ordenadamente, procurando, à luz da mesma Revelação, soluções para os problemas humanos”.

O patriarca de Lisboa sublinhou a importância desta tarefa “em tempos e momentos tão complexos como os atuais, não só do ponto de vista internacional, social, cultural, mas também do ponto de vista eclesial”.

A intervenção deixou um agradecimento à anterior direção cessante, liderada pela professora Ana Jorge e pelo atual bispo auxiliar de Lisboa, D. Alexandre Palma.

Estamos verdadeiramente, ainda, com a ressonância de um caminho sinodal que está a ser percorrido e que cada vez mais se afigura como um caminho rumo à missão. Isso constitui sempre para a Igreja, um momento de reflexão, um momento de revisitar os seus alicerces e os seus fundamentos”.

Inês Capeloa Gil, reitora da UCP, falou da Faculdade de Teologia como o “coração” da instituição, “não só na sua atividade de formação presbiteral, mas também iluminando aquilo que é verdadeiramente a missão” da Universidade Católica, que “une o cultivo da ciência e da fé”.

Segundo a responsável, a teologia “deve estar em todas as 19 faculdades da Universidade Católica Portuguesa, em todas as áreas de conhecimento”.

A reitora da UCP deixou votos de que a nova direção da Faculdade de Teologia continue a “abrir portas” a todas as áreas disciplinares, procurando “conciliar o rigor da pesquisa teológica com a busca do transcendente, através de outras formas estéticas de estar no mundo”.

Foto: Agência ECCLESIA/HM

O padre Luís Miguel Figueiredo Rodrigues disse, por sua vez, que esta tomada de posse era “antes de tudo um ato de gratidão”.

“Não se trata apenas de aceitar uma função, mas de reconhecer que estamos a participar de uma história mais longa do que a nossa. Uma herança tecida com inteligência, dedicação e paixão. As paredes desta casa, visíveis e invisíveis, guardam o eco de gerações de mestres e discípulos que aqui aprenderam a escutar a Palavra de Deus e a pensar a fé à luz das culturas do seu tempo”, apontou.

O novo diretor indicou que esta faculdade tem como razão de ser “servir a comunidade eclesial, a Academia e a sociedade”.

“À Igreja oferecemos um pensamento crente, fiel à tradição e atento ao discernimento dos sinais dos tempos, orientados para uma formação teológica rigorosa e contínua, pelo incremento da literacia teológica do povo de Deus e pela promoção da aprendizagem ao longo da vida”, declarou.

Quanto ao papel da teologia na vida académica, o padre Luís Miguel Figueiredo Rodrigues destacou o papel de “uma área do saber que quer dialogar cada vez mais com as ciências, as artes e as humanidades”.

“À sociedade, oferecemos uma palavra ética e espiritual, pensada e pronunciada a partir da gramática da transcendência, que ilumina os debates contemporâneos, abrindo horizontes de sentido e promovendo o bem comum”, prosseguiu.

Professor associado da Faculdade de Teologia, o sacerdote da Arquidiocese de Braga doutorou-se em 2016 na área da Teologia Prática, pela Universidade Católica Portuguesa, com a tese intitulada ‘O digital no serviço da fé. Formar para uma oportunidade’.

Ordenado padre em 1999, Luís Miguel Figueiredo Rodrigues nasceu em 1975 e era até agora diretor-adjunto do núcleo de Braga da Faculdade de Teologia da UCP.

A nova direção integra os professores Abel Canavarro, Rita Mendonça Leite, Adélio Abreu, Alex Villas Boas, Alfredo Teixeira e João Alberto Sousa Correia.

HM/OC

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