Igreja: Um Papa «contundente» com o atual modelo económico

Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz sublinha que o pensamento de Francisco deve interpelar os cristãos a uma «verdadeira revoluçao»

Lisboa, 11 mar 2014 (Ecclesia) – A Agência Ecclesia, a Rádio Renascença e a Universidade Católica Portuguesa promoveram hoje uma conferência em Lisboa sobre o primeiro ano de pontificado do Papa Francisco, com um olhar especial sobre o seu pensamento socioeconómico.

O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), Alfredo Bruto da Costa, destacou a forma “forte e contundente” como o Papa argentino tem analisado as atuais políticas económicas e financeiras, sobretudo na exortação apostólica “A alegria do Evangelho”, onde fala de uma “economia que mata”.

Para aquele responsável, as palavras de Jorge Mario Bergoglio, reforçadas no texto da mensagem para a Quaresma, são um convite a uma verdadeira mudança de paradigma, que deve interpelar todas as pessoas, a começar pelos cristãos.

“Quem leva a sério a exortação do Papa tem por cima dos seus ombros uma verdadeira tarefa de revolução na economia”, apontou Alfredo Bruto da Costa, realçando que atualmente ainda não existem sinais claros, na sociedade, de uma tentativa de “compatibilização” do modelo económico com os valores defendidos por Francisco.

Para o presidente da CNJP, humanizar a economia, combater a pobreza, a desigualdade e a exclusão social resultantes da lógica financeira dominante, depende antes de mais de uma mudança “cultural”, de uma alteração na atual escala de “valores”.

Ao músico Manuel Fúria coube analisar a mensagem do Papa aos jovens, sobretudo no que diz respeito ao desafio que Francisco tem feito às novas gerações para que “se rebelem” perante as situações que atentam contra os valores cristãos e contra a vida.

Para o artista, trata-se de uma interpelação “fortemente fundada na ideia de fé” – “o que o Papa está a querer dizer aos jovens é que não tenham medo de ser homens de fé e acreditar naquilo que Deus sonhou para eles”, salientou.

Num mundo “tão secularizado” e afastado de Deus, “dá-me um gozo sentir-me contra cultura, do outro lado da barricada, quase em guerrilha”, confessou Manuel Fúria, para quem a mensagem do Papa deve fazer os cristãos sentirem-se “desconfortáveis”, a colocarem a sua fé permanentemente em “confronto” com as situações do quotidiano.

Outra temática em destaque, na análise deste primeiro ano do pontificado do Papa Francisco, foi a forma como o Papa Francisco tem falado às famílias.

Margarida Neto destacou o modo como o Papa tem procurado “sentir a Igreja”, expressa no contacto próximo que tem mantido com as pessoas, com os casais.

Para a psiquiatra, o Sínodo dos Bispos dedicado às famílias, que vai decorrer no próximo mês de outubro, é um bom exemplo desta caraterística que tem marcado o ministério de Jorge Mario Bergolgio, pois a preparação daquele evento foi ao pormenor de envolver todas as famílias do mundo, com a promoção de um questionário que abordou as problemáticas mais prementes da relação entre a Igreja Católica e as comunidades.

Margarida Neto abordou ainda o convite que o Papa argentino fez às famílias, particularmente aos casais, no sentido de regerem a sua relação por três lemas fundamentais: “com licença, desculpa e obrigado”.

“Se há desafio que o Papa passou para a normalidade da vida das pessoas foi este”, sustentou a psiquiatra.

A conferência “Francisco: Um Papa do fim do mundo”, organizada pela Agência Ecclesia, a Rádio Renanscença e a Universidade Católica, contou ainda com a participação dos professores unioversitários Adriano Moreira e Rita Figueira, dos comentadores Henrique Monteiro e Pedro Mexia, e dos vaticanistas Octávio Carmo e Aura Miguel.

 JCP

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