Coordenador e editor de Religião e Cidadania na TVI/CNN Portugal lamenta que o fenómeno religioso tenha de «furar a barreira do preconceito nos meios de comunicação social» e gostaria de ver «atores e protagonistas» dos grupos eclesiais a diversificar a sua presença e palavra nos Media
Lisboa, 29 jan 2025 (Ecclesia) – O jornalista Joaquim Franco afirma haver um “antes e um depois de Francisco” e que as mudanças operadas na Igreja católica, “pelo caráter do Papa e a sua inspiração no Evangelho”, “não irão ter um retrocesso”.
“Há 10 anos muitos dos temas que estiveram em cima da mesa no processo sinodal eram temas tabu, remetidos para grupos que andavam por aí. Hoje esses assuntos estão em cima da mesa. Sendo uma dinâmica imparável, e sendo a Igreja um espaço de visões distintas – também abraçadas por Francisco – o grande desafio é perceber se essa diversidade é compatível com a convivência inclusiva, ou se, pelo contrário, pode desencadear processos de segregação. É desejável que na Igreja isto não aconteça”, explica à Agência ECCLESIA.
O jornalista da TVI, que participou no Jubileu do mundo dos comunicadores, que decorreu em Roma entre os dias 23 e 26 de janeiro, afirma que o ano Jubilar vai ser crucial para a Igreja católica e que, do ponto de vista jornalístico, “vai ser muito interessante acompanhar”.
“O Papa está fisicamente debilitado – aparentemente, do ponto de vista do pensamento, está como o conhecemos. Esta debilidade levanta questões sobre um ano que vai ser duro, com muitas atividades, encontros, uma previsível mini-Jornada Mundial da Juventude, em agosto, num esforço tremendo para o Papa”, reconhece.
Joaquim Franco olha para o percurso de Francisco e entende que o Papa conseguiu fazer o “equilíbrio”, entre o “pensar a Igreja, quanto estrutura humana” e afirmar, sem equívocos, que o “Evangelho é a sua fonte principal de inspiração”.
“O Papa Francisco revelou que não está suscetível a polarizações. Entende-se fiel ao Evangelho, não abdica do Evangelho como a sua fonte principal de inspiração e foi muitas vezes criticado por garantir esse equilíbrio”, sublinha.
O jornalista indica caminhos reformadores que Francisco conseguiu realizar no seu pontificado: “O papel da mulher, o acolhimento de divorciados recasados, o cuidado pastoral para com pessoas homoafetivas, o diálogo cultural e interreligioso, também a denúncia dos nacionalismos e dos populismos num mundo polarizado e fraturado – fratura e polarização também interna na Igreja – colocar as periferias no centro, denunciar todas a política anti-imigração”.
Os gestos que marcam o pontificado “são dele”: “A procura da proximidade física, a ternura das relações, a capacidade de, mesmo sabendo que não é possível dar alguns passos, a capacidade que ele tem de não deixar de dizer o que pensa no momento certo, de ter o gesto no momento certo, mas importa fazer a pergunta sobre do que foi feito é ou não reversível ou, pelo contrário, se a Igreja está sensível a polarizações que invertam o caminho”, questiona.
Numa entrevista ao programa ECCLESIA e ao podcast «Alarga a tua tenda», Joaquim Franco recorda o seu percurso, forjado na consciência social que conduzia os jovens, da paróquia da Amadora, a ações de solidariedade em bairros sociais, num orfanato e na mitra, e afirma que a responsabilidade e a consciência social não mais o largaram.
Joaquim Franco chegou à profissão, no final dos anos 80, pelo fascínio pelas rádios pirata, tendo, posteriormente, procurado formação que o levou ao Correio da Manhã Rádio, à Rádio Comercial, à TSF, tendo, no início do século XXI, integrado a redação inaugural da SIC Notícias.
A procura pela “palavra certa”, num exercício “quase poético” que o questiona sobre a fronteira estilística ao serviço do texto, caracteriza-lhe a escrita mas é também através dela que procura “furar a barreira de um certo preconceito da religião nos meios de comunicação social”.
“O fenómeno religioso não tem de ter um tratamento especial na comunicação social. Tem de ter um tratamento semelhante ao que tem em outros temas. O jornalismo não pode deixar de parte a dinâmica religiosa e a influência que ela tem na vida das pessoas. Pode ser desde a dimensão mais do ritual, da celebração, mas pode ser também a intervenção social, a intervenção política, aquilo que os textos e as narrativas religiosas têm de enquadramento cultural e político, porque o têm”, aponta.
Joaquim Franco lamenta que “os protagonistas ou atores principais dos grupos religiosos” limitem a sua “ação, palavra e leitura, apenas à dimensão do ritual, à defesa de uma posição e não de abertura àquilo que o mundo tem, onde a religião deve estar”.
A conversa com Joaquim Franco pode ser acompanhada esta noite no programa ECCLESIA na Antena 1, emitidos pouco depois da meia-noite, e disponibilizado no podcast «Alarga a tua tenda».
LS