Igreja/UE: Europa precisa de «políticos corajosos e com visão arrojada» – D. António Marto

Bispo de Leiria-Fátima é o representante português na Comissão dos Episcopados Católicos do Velho Continente

Bruxelas, 08 abr 2017 (Ecclesia) – O bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, representante português na Comissão dos Episcopados Católicos da União Europeia (COMECE), diz que o futuro do projeto europeu precisa de "políticos com visão arrojada” e “corajosos para fazer face aos desafios”.

Numa entrevista vídeo inserida nos 60 anos do Tratado de Roma, e no tema ‘Vamos falar da Europa’, publicada pela COMECE, o responsável católico salienta a importância de continuar a lutar por um projeto que ainda tem muito para dar, apesar de estar a passar por um momento difícil.

“A Europa tem um património cultural e espiritual muito grande e único, e não pode prescindir dele, e portanto há que redizê-lo, há que o propor porventura de modo novo, para as circunstâncias novas que está a viver”.

O conceito de uma Europa única, uma grande comunidade entre povos, nasceu há 60 anos depois da Segunda Guerra Mundial como forma de marcar a vontade de uma nova era, de paz e de desenvolvimento comum.

D. António Marto recorda que, ao longo dos anos, o ideal da UE foi sendo progressivamente alargado a mais países, contribuindo para o estreitar de laços entre as nações, “através da circulação livre de pessoas, de bens e de ideias também”.

Mas atualmente o projeto europeu parece estar em desagregação, e o Reino Unido foi o primeiro membro a manifestar oficialmente a vontade de sair e a concretizar essa intenção, com o chamado ‘brexit’.

O delegado da Conferência Episcopal Portuguesa na COMECE realça que a UE "não pode ser reduzida a algo meramente económico ou financeiro, nem à tarefa de gerir o funcionamento do mercado ou a uma série de leis que emanam de Bruxelas”.

É também “um projeto cultural e espiritual, para o enriquecimento dos povos da Europa”.

“A Europa está com uma série de crises na mão, economico-financeira, da família e dos modelos consolidados, das instituições diantes das quais há uma desafeição muito grande da parte do povo, dos migrantes”, aponta D. António Marto.

No que toca à crise de refugiados, o prelado ressalva que o que está em causa “não é só uma questão de segurança, é um questão cultural”.

“A UE foi sempre formada por povos de diversas culturas que aqui chegaram. E por conseguinte há que acolher no diálogo, no respeito, na integração, fazer face a estes desafios, frisou o bispo português, que recorda o desafio que o Papa Francisco deixou aos “governantes” europeus, na recente celebração dos 60 anos do Tratado de Roma.

“Descobrir, traçar, identificar percursos ou caminhos de esperança. Colocar a pessoa humana e a sua dignidade no centro; a solidariedade no centro da ação da Europa; não fechar fronteiras. A primeira causa desse medo dos refugiados é a perda de ideiais: que ideiais a Europa oferece a esta gente?”, questiona D. António Marto.

O Papa Francisco salientou também a urgência da Europa olhar para “o futuro dos jovens”, em especial para a sua insersão na sociedade e no mundo do trabalho; e para “o futuro das famílias”, que são a célula-base de toda a vida.

Daí que, voltando ao que é dito no início, o bispo de Leiria-Fátima defenda também a necessidade de políticos, “homens e mulheres, com um grande espírito de serviço”.

“E com uma grande paixão política, para levar este mundo para a frente. Porque a Europa, a União Europeia, como comunidade de povos, uma família de povos, merece ser construída”, concluiu.

JCP

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Agência ECCLESIA

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