Igreja: «Tenho medo de uma unanimidade de cabeças baixas» – D. José Ornelas

Guerra na Ucrânia, as greves em Portugal, abusos sexuais na Igreja, Sínodo e Jornada Mundial da Juventude são temas da entrevista ao presidente da Conferência Episcopal Portuguesa

Foto: Renascença/Miguel Rato

Lisboa, 25 dez 2022 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa afirmou em entrevista à Renascença e à Agência ECCLESIA que é preciso pensar o futuro com a “luz do Natal” e disse que o Sínodo na Igreja “está acontecendo” e vai motivar à participação.

“Tenho medo de uma unanimidade de cabeças baixas que não se levantam nem para cima, para ver o céu, nem têm ouvidos para o lado para ouvir o que se passa”, afirmou D. José Ornelas.

O bispo da Diocese de Leiria-Fátima lembrou que “o ser Igreja é precisamente participar nela”, com aquilo que cada um pensa para “ajudar e corrigir eventuais erros” e para “construir um mundo e uma Igreja” onde todos tenham “voz e vez, cada um no seu lugar.

“É preciso que esta Igreja aprenda e seja capaz de integrar, não para relativizar as coisas, não para abandalhar as coisas, mas para criar uma Igreja onde todos tenhamos a possibilidade de colaborar na construção de um mundo melhor”, afirmou.

Questionado sobre as consequências do relatório que a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica Portuguesa, D. José Ornelas reafirmou que “situações destas não podem, não podem ter lugar no seio da Igreja, no seio da sociedade” e que, “para a Igreja é mais grave” porque “é a negação absoluta daquilo que deve ser”.

“Para nós, na Igreja, é muito importante termos consciência de que estas coisas não são para calar”, afirmou.

Pedimos um estudo para conhecer a realidade e para que ela nos permita a conhecer, avaliar, discernir e ver que caminhos novos podemos ter para evitar estas coisas no seio da Igreja e, o mais possível, no seio da sociedade”

O presidente da CEP lembrou que cuidar das crianças “é precisamente o tema do Natal”, porque celebra o nascimento de Deus Menino.

“Deus vem para o meio de nós feito criança, isto é: aprendam a tentar cuidar das crianças e aprenderão a cuidar do projeto de Deus. A aberração dos abusos é que são absolutamente o contrário disto”, sublinhou.

Na entrevista à Renascença e à Agência ECCLESIA, D. José Ornelas denunciou aqueles que “beneficiam com a guerra, aqueles que têm a ilusão de se tornarem poderosos com a guerra” e mostram que “não estão interessados na paz”.

“Aqueles que lutam pela paz são aqueles que sofrem as consequências da guerra”, afirmou o bispo de Leiria Fátima, acrescentando que “a voz do Papa cria esperança em tanta gente”.

A respeito das manifestações de professores e do fecho de urgências hospitalares, o presidente da CEP afirmou que os discursos “são blá-blá-blá” e ninguém “discute as soluções concretas”.

D. José Ornelas afirmou que é necessário estudar, “longe de ideologias, soluções com o “fundamento de servir bem o país” e colocando os “problemas das pessoas em primeiro lugar.

O bispo de Leiria-Fátima disse que o facto de ser mais difícil nascer neste Natal, por causa do fecho de urgências da especialidade, é um “grande drama”, e referiu que encontra “pouca lógica” na lei da eutanásia aprovada no Parlamento.

“O que eu acho que esta lei de agora não ficou melhor. As alterações feitas só alargaram mais o leque de acesso e com formas preocupantes”, referiu.

O presidente da CEP disse que a voz dos católicos “é sempre clara” e, sem atuar de forma política, defende sempre o “respeito pela vida e por todas as pessoas”.

A respeito da Jornada Mundial da Juventude, D. José Ornelas afirmou que “é necessário partir de novo também para o meio dos jovens, com a lógica do Natal”, lembrou que, no mundo, não “há alguma organização que movimenta tantos jovens como a Igreja” e desafiou a pensar o futuro com os jovens e com “a luz do Natal”.

“Precisamos de assumir a atitude de um Deus todo poderoso, omnipotente, mas que se faz criança e que diz: eu preciso de vocês para criar o sonho, o meu sonho, o meu projeto nesta terra. E é isso que é importante que nasça no coração dos jovens”, referiu.

D. José Ornelas disse que, mais do que saber quantos jovens vão participar na JMJ Lisboa 2023, interessa “saber o que é que levam no coração”.

PR

(Entrevista conduzida por Henrique Cunha, da Renascença, e Paulo Rocha, da Agência Ecclesia)

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