Congresso Diocesano Pastoral Sócio-Caritativa partilhou relatos de diferentes áreas: pessoas com deficiência, pastoral dos ciganos, pastoral penitenciaria e ajuda aos migrantes e refugiados
Lisboa, 15 mai 2021 (Ecclesia) – Manuela Mendonça, do departamento da Pastoral dos Ciganos do Patriarcado de Lisboa afirmou que, este trabalho que começou nos anos 70, tem abertos “caminhos”, mas dá conta de “autoestradas” que necessitam ser percorridas.
“Tem-se aberto um caminho mas há uma autoestrada que é preciso percorrer”, afirmou a responsável, esta tarde, no painel que juntou diversas experiências no Congresso Diocesano Pastoral Sócio-Caritativa que o Patriarcado de Lisboa organiza neste dia.
São sete as paróquias que no patriarcado de Lisboa fazem acompanhamento a jovens e crianças de etnia cigana, num total de 488, mas também desenvolvem trabalho comunitário que compreende o atendimento, visitas e encaminhamento, dinamização de formação e cursos e o estabelecimento de parcerias para encontrar mais respostas, apresentou.
Este trabalho teve início nos anos 70, com Fernanda Reis, “a primeira voluntária”, que nos bairros da Amadora estava inquieta com as “crianças que não iam à escola”.
“Estas pessoa não tinha escola, documento, registos, e por isso surgiu a necessidade de ajudar estas pessoas a serem pessoas, que se encontrem e sejam respeitadas”, valorizou.
Os objetivos do serviço pastoral pretende ir ao encontro de todos, “valorizar todos” para serem “respeitados como pessoas porque todos somos portugueses” e apostam na “relação pessoa a pessoa”, procurando fazer com a comunidade cigana “um encontro com os valores evangélicos”.
Carmo Diniz, do serviço pastoral a pessoa com deficiência, frisou que a integração e a acessibilidade ultrapassa a existência de rampas, pois quando se fala de “pessoa com deficiência” se deve entender uma variedade de diferenças: “Pode ser um filho que nasceu com limitação motora; pode ser um irmão que não consegue ouvir e por isso tem dificuldade em comunicar; um amigo que foi abandonado que alguém não acreditou no seu potencial; uma mãe que cuidou e perdeu a sua capacidade de cuidar”.
A responsável indicou que a pessoa com deficiência está no centro da missão cuidadora que a Igreja desempenha há séculos.
“Precisamos da Igreja, não das rampas, ou de braille, do sistema pictográfico, mas da relação, pertença, alegria e fé. Precisa de Deus, do amor de Deus que cada um testemunha”, sublinhou.
Carmo Diniz aponta três verbos que o serviço pastoral está a desenvolver: «chamar, acolher e valorizar”.
“Haja vontade para acolher, não faltam ideias para a colocar em prática”, frisou.
O Padre José Luís Gonçalves, coordenador da pastoral das prisões no Patriarcado de Lisboa, traçou um quadro, mencionando 4524 reclusos, num total de 11 0412 reclusos a nível nacional; de 50 estabelecimentos em Portugal, 12 estão no território da diocese, dez deles com “complexidade elevada”.
“Na população prisional, 22% completaram o 1º ciclo, o grosso da população prisional não faz a escolaridade obrigatória, 17% da população prisional é preventiva, e pode estar até três anos na prisão sem julgamento. Isto tem um impacto apreciável na vida de uma pessoa”, considerou.
O responsável lembrou ainda que a grande maioria da população prisional é masculina, e que isso tem uma consequência na “sustentabilidade de uma família”, algo “que não é colateral”.
O padre José Luís Gonçalves lamentou que os cidadãos “não tenham proximidade com os estabelecimento prisionais”, apesar de estes estarem próximos da sua realidade.
“Havia sempre um capelão fixo, hoje temos 10 padres – nenhum deles a tempo inteiro – a colaboração de quatro diáconos e 160 voluntários, mas acredito que sejam mais”, afirmou.
A pastoral penitenciária quer “amplificar” e dar visibilidade a este trabalho, mantendo-se uma “presença ativa”, que deve ser “mais do que celebrativa ou formativa, mas tem de ser sócio-caritativa”, destacou.
Luís Palha, da pastoral da mobilidade e da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), afirmou que o apelo do Papa Francisco lançou para que cada comunidade acolhesse uma família de refugiados foi fortemente aceite em Portugal, mas que este acolhimento é mais do que uma “assistência técnica”.
“Acolher uma família é mais do que uma assistência técnica: as raízes desta família foram arrancadas à força e são chamados a ganhar raízes aqui. O trabalho tem de ser feito pessoalmente, é preciso tempo. Uma árvore não dá frutos nos dois primeiros anos, em que o programa se estrutura”.
A PAR apela a uma ajuda pessoal, de amizade, ao refugiado a aprender português, a olhar a cultura portuguesa, a valorizar o acolhimento, a “um conhecimento das instituições anfitriãs” para colaborações.
Luís Palha terminou com o testemunho de um refugiado: «Um dia disse-nos – “Já percebo porque é que os cristãos ajudam os muçulmanos: porque o nosso Deus é o Deus do amor”».
LS