Cardeal Luis Antonio Tagle, presidente da confederação internacional da Cáritas, assinala importância do debate sobre as migrações no Sínodo dos Bispos e do projeto «Partilhar a Viagem»
Entrevista realizada em parceria para a Agência Ecclesia, Família Cristã, Flor de Lis, Rádio Renascença e Voz da Verdade
Uma das questões que tem vindo a ser colocada neste Sínodo tem sido o problema das migrações nas novas gerações. Quão importante é ter este assunto de forma permanente na agenda do Sínodo?
Acho que é uma das bênçãos deste Sínodo. Os bispos e especialmente os jovens de países onde há muitas migrações forçadas, dizem que as pessoas não querem deixar as suas casas, mas são obrigados devido à pobreza, falta de emprego, guerras, ódios. Isto tornou-se uma característica permanente na vida destes jovens.
O desafio para a Igreja é o de saber se incluímos esta realidade na nossa pastoral juvenil. Muitas vezes, quando pensamos em pastoral juvenil, pensamos em catequese, e está correto; pensamos em liturgia, e está certo; pensamos em liderança, e está certo. Mas quando passamos a contar com jovens que estão em fuga, que são vulneráveis porque são obrigados a forçar, há toda uma nova área de pastoral. Difícil, mas que irá renovar a pastoral juvenil em muitas partes do mundo.
O mundo está mais preocupado em levantar muros e fechar fronteiras, enfrenta também o crescimento do populismo. Qual a importância de ter gestos simbólicos e efetivos de mostrar ao mundo que é possível caminhar juntos?
Esta atmosfera de separação, divisão, de incutir medo no outro – e depois ter esta ideia de construir muros ou destruir pontes que foram construídas – isto acontece devagar. E nós podemos travá-la, ou pelo menos abrandá-la, com pequenas ações no dia a dia, com paciência.
O apelo do Santo Padre é o de desenvolver uma cultura de encontro pessoal. Às vezes temos medo quando falamos destas noções de migração, de refugiados… mas se chamarmos todas estas noções ao nível da realidade, vemos que todas elas são sobre seres humanos. Portanto, vamos encontrar-nos como seres humanos.
Quando ouvirmos as histórias dos migrantes, os seus sonhos, veremos que eles não são diferentes de nós. Aí, poderemos todos dar as mãos e caminhar juntos.
Como nós, portugueses, há filipinos espalhados por todo o mundo. Como é que se passa a mensagem de que todos viajantes do mundo?
Antes de mais, gostaria de recordar a todos no mundo que todos temos antepassados que já foram migrantes, e muitos de nós até agora temos um irmão, um irmã, tio ou sobrinho que é migrante noutra parte do mundo. Por isso, apelo a todos os que estão a alimentar este medo dos migrantes: não se esqueçam disto, porque é a falta de memoria que nos torna vazios perante as outras pessoas.
A vida é uma viagem, e todos somos migrantes neste mundo. Ninguém pode afirmar “sou um residente permanente e tenho o direito de ficar aqui”. Não, isto é um dom. Apenas Deus tem posse sobre esta terra, nós estamos apenas a caminho.
Finalmente, se olharmos para todos os nossos países e para as suas economias, verificamos que boa parte do crescimento dessas economias é devido ao contributo dos migrantes. Retirem os migrantes e as economias irão entrar em colapso.