Igreja/Tecnologia: Espiritualidade deve ser «batuta moral» na integração da Inteligência Artificial

Conferência Episcopal dos Institutos Religiosos promoveu debate, na sua Assembleia Geral

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Fátima, 18 nov 2025 (Ecclesia) – Os participantes na Assembleia Geral da CIRP (Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal), que se concluiu hoje em Fátima, receberam o desafio de promover a espiritualidade e o encontro humano perante o avanço da inteligência artificial (IA).

«Nós é que temos de dominar a inteligência artificial, aproveitá-la, naturalmente, como uma ferramenta muito importante, principalmente no que diz respeito à eficácia”, disse à Agência ECCLESIA o padre Adelino Ascenso, presidente da CIRP.

O responsável sublinhou a necessidade de os consagrados não ficarem “alheados” daquela que classificou como uma “nova revolução industrial”.

Para o presidente da CIRP, a formação é fundamental para distinguir o que a tecnologia é daquilo que não é, valorizando dimensões como o “mistério”, a “reflexão” e o “discernimento”.

“É necessário que nos recolhamos e revalorizemos o sentido da não-pressa, o sentido do vagar, o ócio criativo”, acrescentou o padre Adelino Ascenso.

O painel inicial, esta segunda-feira, foi dedicado ao tema ‘IA e a Vida Consagrada’, com a intervenção de Eugénia Abrantes, investigadora na área da espiritualidade, a qual alertou para o risco de o ser humano ficar “infantilizado” perante uma tecnologia que parece “superpotente”.

“A espiritualidade é a batuta moral para o futuro que nós queremos construir nesta integração inevitável da inteligência artificial”, declarou à Agência ECCLESIA a presidente do Instituto de Estudos Avançados em Catolicismo e Globalização (IEAC-GO).

Eugénia Abrantes explicou a dimensão espiritual é o que permite uma “ação ética perante a realidade”, congregando e criando empatia, contrariando uma visão fragmentada do mundo.

A distinção entre a simulação das máquinas e o verdadeiro encontro humano foi o foco de Diana de Vallescar Palanca, investigadora na área da interculturalidade.

“Não existe reciprocidade nem invenção criativa nesse diálogo”, advertiu a especialista, falando com a Agência ECCLESIA sobre as interações com a IA.

A conferencista lamentou a perda da noção de “temporalidade” nas relações e notou que a sociedade corre o risco de perder a distinção entre “o que é uma simulação e o que é um diálogo de encontro interpessoal e transformador”, especialmente entre as pessoas que vivem de forma mais solitária.

O terceiro convidado do painel foi Octávio Carmo, da Agência ECCLESIA, que recordou os vários desafios superados, ao longo da história, pela Vida Consagrada, que apresentou como lugar de “silêncio” e de esperança.

O jornalista destacou a necessidade de integrar a IA sem lhe entregar o que é específico do ser humano e da sua dignidade.
“Estamos perante uma realidade que conhece todas as palavras. Só não sabe onde encontrar a alegria”, indicou aos participantes.

A Assembleia Geral da CIRP decorreu em Fátima sob o tema ‘Comunicação e Vida Consagrada: Inteligência Artificial e Diálogo’, procurando propor alternativas “profundamente humanas” num tempo de hiperdigitalização.

OC

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