Igreja/Solidariedade: Responsável do Vaticano sublinha missão de «construir pontes»

Colóquio que celebra 35 anos da Fundação Fé e Cooperação aponta caminhos de futuro para o setor, ameaçado por conflitos e crise climática

Lisboa, 10 set 2025 (Ecclesia) – A secretária do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé) sublinhou hoje a importância de “construir pontes” no trabalho das instituições católicas ligadas à cooperação.

“Ao longo destes anos, a Fundação soube construir pontes entre as comunidades, apoiar processos de desenvolvimento humano integral e promover a dignidade da pessoa em contextos marcados por múltiplos desafios”, disse a irmã Alessandra Smerilli, numa mensagem enviada aos participantes no colóquio que assinala o 35.º aniversário da Fundação Fé e Cooperação (FEC).

A iniciativa decorre, esta manhã, sob o tema ‘Fraternidade, novo nome para a Paz’, no Auditório da Rádio Renascença, em Lisboa.

“Vocês são parte viva de uma Igreja que se torna companheira de viagem dos povos e das comunidades, especialmente das mais frágeis”, apontou a secretária do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, numa mensagem em vídeo.

Falando sobre a “diplomacia da fraternidade”, a irmã Smerilli destacou que a Igreja tem como missão “construir pontes, derrubar muros, gerar fraternidade em todos os cantos do mundo e, sobretudo, onde a dignidade da pessoa é ameaçada e os direitos fundamentais são negados”.

“Desejamos felicitar vivamente a Fundação Fé e Cooperação pelo trabalho realizado nestes 35 longos anos. O vosso empenho na cooperação para o desenvolvimento e na colaboração com as Igrejas em África é um testemunho concreto de uma fé que se traduz em proximidade, escuta, justiça e esperança”, declarou a colaboradora do Papa.

O caminho que empreenderam, feito de presença, projetos e relações, contribui significativamente para a promoção de um verdadeiro desenvolvimento humano integral, para um verdadeiro florescimento humano”.

A irmã Alessandra Smerilli manifestou o apoio do organismo da Santa Sé à Igreja Católica em Portugal, para “continuar a responder com coragem e esperança aos complexos desafios da atualidade, em particular na promoção da dignidade humana e do pleno desenvolvimento da pessoa e de todas as pessoas”.

“Celebrar 35 anos de história significa agradecer, significa celebrar, significa fazer memória, mas também estar abertos a novos desafios, a novos compromissos. E o nosso desejo é que não parem, que avancem com coragem para o novo tempo que nos espera a todos e que espera a vossa missão”, apelou.

Os trabalhos, inaugurados por D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), incluíram um painel dedicado ao tema ‘Desenvolvimento, Fraternidade e Paz: que nexo?’.

D. Inácio Saúre, presidente da Conferência Episcopal de Moçambique, aludiu ao impacto da guerra em Cabo Delgado, norte do país, e afirmou que “pensar que a solução militar é a única é uma ilusão”.

O arcebispo de Nampula apontou o dedo à responsabilidade das “multinacionais”, que colocam condições contrárias ao “bem dos locais”.

A embaixadora Rita Laranjinha, ex-diretora geral para África no Serviço Europeu para a Ação Externa, elogiou, por sua vez, o papel de Portugal a “influenciar a União Europeia” no aprofundamento de relações com o Sul global.

“Portugal olha para o mundo de uma forma muito mais abrangente, muito mais diversa”, acrescentou.

Bernd Nilles, presidente da CIDSE – rede internacional de organizações católicas focada no desenvolvimento – foi questionado sobre espaço para a crise climática, em particular a próxima COP30, num momento de dispersão de meios, por causa das guerras e violência em várias partes do mundo.

O responsável sustentou que “a climática está a alimentar conflitos” e deslocações forçadas da população.

Nilles alertou, em particular, para a crise provocada pela exploração dos combustíveis fósseis, com impactos sobre o ambiente e as populações.

“Há empresas que, infelizmente, ainda ganham muito dinheiro com os combustíveis fósseis”, observou.

Para o presidente da CIDSE, é preciso que os participantes na cimeira do clima da ONU, que a cidade brasileira de Belém vai receber em novembro, “aumentem as ambições”, em vez de baixar os “objetivos climáticos”.

A Fundação Fé e Cooperação, organismo da CEP, foi criada em 1990 e tem, atualmente, projetos em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal.

OC

Notícia atualizada às 13h42

Os trabalhos concluíram-se com um segundo painel, dedicado ao tema ‘O Futuro da Cooperação Internacional’.

Ana Celeste Pipio, chefe da divisão do Gabinete de Planeamento, Programação e Estatística do Camões, I.P., falou de um “cenário exigente e em constante evolução”, assumindo o objetivo de fomentar “um desenvolvimento sustentável, inclusivo e equitativo”, centrado nas pessoas e acreditando que “nelas reside a base da mudança duradoura”.

“Existe uma grande pressão sobre os orçamentos nacionais”, admitiu, aludindo aos cortes de apoio à ajuda externa nalguns países, com “impactos devastadores” sobre as populações.

Mário Almeida, que integra o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano (coordenação para África da secção ‘Escuta e Diálogo’), alertou para um “momento trágico para a cooperação internacional e a diplomacia da fraternidade”.

Javier Gavilanes, membro do Conselho de Administração da FEC, consultor internacional e vice-presidente da ONGD espanhola CESAL, apontou a uma cooperação “baseada no conhecimento” e com “coerência de políticas”.

O colóquio foi acompanhado pelos participantes no XVI encontro de Bispos dos Países Lusófonos, que decorre desde terça-feira, reunindo responsáveis católicos de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Ana Patrícia Fonseca, diretora-executiva da FEC, encerrou os trabalhos, agradecendo a presença de “amigos e parceiros”, em vários países.

“Vivemos num momento em que as relações internacionais e o sentido de uma comunidade global estão ameaçados”, admitiu a responsável, lamentando a quebra da “concertação internacional” e do “diálogo para a paz”.

Citando o Papa Francisco, Ana Patrícia Fonseca apontou a uma fraternidade universal, indicando que “as crises são pessoas em agonia”.

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