Igreja/Sociedade: «Tempo da Criação» lembra que cuidado pelo planeta «é muito mais amplo que o ambiental»

Juan Ambrósio sublinha importância de assumir ecologia integral, proposta pelo Papa, no «agir cristão»

Foto: Agência ECCLESIA

Mafra, 24 ago 2024 (Ecclesia) – Juan Ambrósio, da comissão coordenadora da Rede ‘Cuidar da Casa Comum’, afirma “um dos grandes objetivos” do ‘Tempo da Criação’, com início a 1 de setembro, é mostrar que o cuidado pelo planeta “é muito mais amplo que o ambiental”.

“O cuidado pela criação implica, de facto, o cuidado por este planeta Terra do qual nós fazemos parte, não simplesmente habitamos, mas fazemos parte. Como diz a ‘Laudato Si’, não somos só Terra, mas também somos Terra, partilhamos essa condição com todo o planeta e, portanto, este mês é um tempo para consciencializarmos como muito da nossa experiência cristã, e da nossa fé também, passa por cuidar desta casa que nos acolhe, desta casa que fazemos parte”, disse o teólogo católico à Agência ECCLESIA.

O ‘Tempo de Criação’ é um período ecuménico que une Igrejas e comunidades cristãs de todo o mundo, e que se realiza anualmente de 1 de setembro a 4 de outubro; começa no Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação e termina na festa litúrgica de São Francisco de Assis.

“Julgo que é um dos grandes objetivos que as pessoas comecem a consciencializar que este cuidado pela criação, que é muito mais amplo que um cuidado meramente ambiental, e o meramente é preciso dizer com cuidado porque já é importantíssimo, mas é mais do que isso”, realçou o vice-presidente da comissão coordenadora da RCCC.

Juan Ambrósio salienta que o ‘Tempo de Criação’ é um “mês inteiro dedicado” a este tema para as pessoas perceberem e irem interiorizando “como esse cuidado deve ser algo que deve ir cada vez mais marcando e caracterizando o agir também cristão”, ou seja, viver “a fidelidade à identidade cristã” cuidando da criação, do planeta e “cuidando uns dos outros”.

O docente da UCP lembrou que os católicos são dos que chegaram “mais tarde” a este tempo especial; o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado pela Criação foi instituído na Igreja Católica, pelo Papa Francisco, em 2015, após a publicação da Encíclica ‘Laudato Si’, o dia 1 de setembro foi escolhido para coincidir com a comemoração que já existia na Igreja Ortodoxa.

“É interessante que a ‘Laudato Si’ e, mais tarde, a ‘Laudate Deum’, cita a Conferência Episcopal Portuguesa, num documento em que fala da intergeracionalidade, ou seja, este cuidado da criação tem esta dimensão de diálogo: diálogo entre cristãos, diálogo com as outras religiões, diálogo com toda a humanidade, homens e mulheres de boa vontade, mas tem também geracional”, desenvolveu.

Foto: Agência ECCLESIA/HM

O teólogo salientou que o catolicismo tem a “marca da diversidade” e este cuidado pela criação compromete “num horizonte muito mais vasto, não é o sol do quintalzinho”, mas da ‘Casa Comum’ e esse deve ser um compromisso “enquanto humanidade e enquanto cristãos”.

“As nossas comunidades irem cada vez mais integrando isto na sua maneira de ser, procurando modos de vida sustentáveis, antecipando o futuro”, acrescentou o entrevistado que alertou para a importância de “mudar de estilos de vida” e que “são os mais pobres” que sofrem as piores consequências dos “desarranjos climáticos”.

O tema do ‘Tempo da Criação’ 2024 é ‘Esperar e agir com a criação’, que algumas traduções apresentam como ‘esperançar’, como divulgou o Movimento internacional ‘Laudato Si’, e o texto bíblico que inspira esse mote é da Carta aos Romanos (8,19-25), “que fala que a criação geme como em dores de parto”.

“Esta ideia do parto é muito interessante porque se a ligarmos ao esperar, a esperança, é uma imagem muito poderosa para entendermos ao que é que estamos desafiados: A mulher grávida espera, está à espera de um futuro – de certo modo, esse futuro já marca o seu presente e ela já vive esse futuro, já vive a partir desse futuro, já vive para esse futuro”, indica Juan Ambrósio, afirmando que “cuidar da criação é também cuidar desse futuro”.

No dia 1 de setembro (domingo), o Programa ‘70*7’, transmitido na RTP2, vai assinalar o início do ‘Tempo da Criação 2024’ com a reflexão da Rede ‘Cuidar da Casa Comum’ e dois projetos concretos, um na empresa Lisnave, em Setúbal, e outro das Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora, em Gondomar.

HM/CB/OC

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Agência ECCLESIA

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