Igreja/Sociedade: Rede Internacional ‘Talitha Kum’ vai «lutar o mais possível» contra tráfico de pessoas – Irmã Julieta Dias

«Não vamos ficar de braços cruzados perante esta calamidade», afirma membro da Comissão de Apoio às Vitimas do Tráfico de Pessoas de Portugal

 

Foto: Vatican Media

Roma, 22 mai 2024 (Ecclesia) – A irmã Julieta Dias, religiosa portuguesa a participar na Assembleia Geral da Rede Internacional ‘Talitha Kum’, em Sacrofano (Itália), destacouo compromisso em “desenvolver ações contra o tráfico de pessoas”, em 71 países dos cinco continentes.

“Além do objetivo de celebrar os 15 anos de ‘Talitha Kum’, temos objetivos concretos de partilhar e ouvir as diferentes realidades a partir do terreno, abraçar a nossa identidade e diversidade como uma rede internacional de redes, reforçar as relações do trabalho em rede e a colaboração, e rever as nossas prioridades à luz das realidades emergentes”, disse hoje à Agência ECCLESIA.

A 2.ª Assembleia Geral da Rede internacional ‘Talitha Kum’, com o tema ‘Caminhando juntos para acabar com o tráfico de seres humanos: Compaixão em ação para a transformação’, decorre entre 18 a 24 de maio, na Fraterna Domus, em Sacrofano, a 30 quilómetros de Roma.

“Juntos, juntas, movidas pela compaixão, as ações têm o poder de transformar vidas rumo a um mundo livre do tráfico de pessoas. Nestes quatro ou cinco dias que estamos aqui encontramos ações a desenvolver, até 2030”, salientou a religiosa do Sagrado Coração de Maria, contabilizando que participam 153 pessoas, de 71 países dos cinco continentes, comprometidas em “desenvolver ações contra o tráfico de pessoas”.

Segundo o programa, esta quarta-feira os participantes da assembleia geral da Rede Talitha Kum assinam uma ‘declaração final de prioridades’ que vai estabelecer os pontos sobre os quais se comprometem a trabalhar nos próximos cinco anos, até 2030.

A irmã Julieta Dias enunciou algumas dessas prioridades, que depois “têm ações concretas”: “A mudança sistémica face a novas vulnerabilidades; a abordagem holística centrada no sobrevivente, na sobrevivente, do tráfico de pessoas; ampliar a colaboração e as parcerias”.

A entrevistada afirma que “é muito difícil” acabar com o tráfico de seres humanos, e aponta para algumas causas como a “economia que existe em todo o mundo”, “a ‘economia que mata’ como diz o Papa Francisco”, o consumo de desenfreado das pessoas, “o individualismo”, para além de “calamidades, os conflitos e as guerras” que geram muitos deslocados e “há sempre pessoas que lucram, que ganham, com a miséria dos outros”.

Irmã Julieta Dias (direita) Foto: Vatican Media

A irmã Julieta Dias, da Comissão portuguesa de Apoio às Vitimas do Tráfico de Pessoas (CAVITP), criada em 2006 pela Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP), explica os membros da Rede internacional ‘Talitha Kum’ também querem estar “mais presentes junto de imigrantes digitais”, e fazer “muita sensibilização nas escolas, mesmo aos adultos”, indicando que a violência doméstica também origina tráfico de mulheres, quando “fogem de casa e, depois, são apanhadas pelos traficantes”.

“Isto é dificílimo, e nós temos consciência disso. Nenhuma de nós, nenhum de nós, julgue que vamos até 2030 erradicar completamente o tráfico, mas o que estiver nas nossas mãos fazer, lutar o mais possível – junto das entidades governamentais, dos empresários, da sociedade civil, e evolver toda essa gente – nós não nos vamos calar, e não vamos ficar de braços cruzados, perante esta calamidade, e é isso que nós aqui nos comprometemos nestes dias”, desenvolveu, realçando que o artigo 4.º da Declaração dos Direitos Humanos “condena, criminalmente a escravatura”.

Os participantes da 2.ª Assembleia Geral da Rede ‘Talitha Kum’ vão ter uma audiência privada com o Papa, esta quinta-feira, e a irmã Julieta Dias espera que Francisco os entusiasme, para além de “dar a sua bênção”.

“Para nós é muito importante termos o Papa, sentirmos o Papa, ouvirmos de viva voz o Papa, incentiva a não pararmos enquanto houver alguém traficado, então, para nós, é importantíssimo, ficámos radiantes, porque é uma força. E nós sabemos que o Papa, neste momento, é a personalidade que é mais ouvida no mundo, não só no mundo católico, como no mundo de outras religiões, e no mundo dos não-crentes”, desenvolveu.

Do programa do encontro, para esta quinta-feira, consta também uma liturgia celebrada pelo cardeal Michael Czerny, o prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, na Basílica de São Pedro, e a cerimónia de entrega do ‘Prémio Irmãs Contra o Tráfico’, onde três religiosas vão ser reconhecidas “pela sua excecional coragem, criatividade, colaboração e realizações na proteção das suas comunidades contra o tráfico de seres humanos”, no auditório Augustinianum, em Roma.

CB/OC

 

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Em Portugal, a Comissão de Apoio às Vitimas do Tráfico de Pessoas – CAVITP abrandou as suas atividades de formação e informação na pandemia de Covid-19, refere a irmã Julieta Dias, explicando que o grupo é constituído por sete consagradas e uma leiga, Eugénia Quaresma, que é a diretora da OCPM – Obra Católica Portuguesa das Migrações.

“Não perdemos a esperança, porque acreditamos que falando, atuando, sensibilizando, consciencializando, fazendo prevenção, podemos acabar com o tráfico. É difícil, sei que é muito difícil, mas se não fizermos nada é que o tráfico não acaba”, acrescenta, referindo que este ano já esteve “com turmas de alunos a falar do tráfico”, em Bragança, já estiveram com “grupos das religiosas e dos religiosos”.

A CAVITP, adiantou a entrevistada, está a programar um dia inteiro de formação, para o mês de outubro, “mas ainda não está nada confirmado”, que querem “aberta a toda a gente”, para “envolver muito a sociedade civil”, e profissões que poderiam estar “atentas” aos sinais de tráfico de pessoas, “como as profissões de saúde, enfermagem e medicina, a psicologia, assistentes sociais, o Direito”.

“Em Portugal, tem havido o desmantelamento de redes. Só que os traficados, os sobreviventes, têm medo e não são capazes de dizer que traficou. Os traficantes dizem que ‘não, apenas pagava mal, não os inscrevi na Segurança Social’, e pagam uma multa”, explicou a irmã Julieta Dias.

 

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Agência ECCLESIA

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