Igreja/Sociedade: «Procuramos saber o nome deles [reclusos], não os tratamos pelo número», afirma coordenador dos voluntários vicentinos no Estabelecimento Prisional de Lisboa (c/vídeo)

Diácono permanente no Patriarcado de Lisboa coordena equipa que visita todas as quartas-feiras a prisão, procurando trazer «um pouco de humanidade» aos reclusos e aos trabalhadores prisionais

Lisboa, 06 jan 2025 (Ecclesia) – O Estabelecimento Prisional de Lisboa recebe todas as quartas-feiras a visita de uma equipa de voluntários vicentinos que, segundo o coordenador Francisco Costa Macedo, pretende “levar presença com esperança” aos reclusos.

“A nossa presença é para criar relação com as pessoas que se encontram encarceradas. Procuramos saber o nome de cada um deles, não os tratamos pelo número. Procuramos trazer um pouco de humanidade àquele espaço que é difícil, quer para quem está lá preso, quer para quem lá trabalha”, afirma em entrevista ao Programa Ecclesia, transmitido hoje na RTP2.

Segundo explica Francisco Costa Macedo, a visita é para muitos reclusos “o momento mais desejado da semana”, que procuram os voluntários para ter “um momento de partilha” e de “escuta”.

A equipa reúne-se com 20% da população prisional de cada uma das seis alas do Estabelecimento Prisional de Lisboa, sendo que algumas podem chegar aos 200 reclusos.

Além dos momentos de “partilha profunda”, o diácono dá conta que as visitas incluem, muitas vezes, a celebração da Missa, momentos de oração e é “preparado o terreno” para o sacramento de reconciliação.

“Quando se reza, reza-se mesmo a sério. Sem grandes fórmulas, sem grandes preocupações formais, mas geralmente são momentos de oração muito intensos e nós, voluntários, que dedicamos parte do nosso tempo a estar com estes homens, sentimo-nos muito tocados pela profundidade da partilha e daquilo que é posto em comum num contexto de oração”, salienta.

Falando no panorama das prisões em Portugal, Francisco Costa Macedo refere que o sistema prisional, como está desenhado atualmente, não proporciona “desejos de mudança” aos reclusos.

“A prisão, hoje em dia, é pouco mais que um arquivo de pessoas sobre as quais nós preferimos ignorar”, realçou.

O diácono dá conta que as estatísticas dizem que “60 a 70% da população prisional, uma vez libertada, volta a reincidir” e, muitas vezes, “cometendo crimes mais graves”, alertando que este deveria ser um “sinal vermelho” para a “sociedade civil” e “responsáveis políticos”.

Sobre a reinserção social, o entrevistado fala que as fases de transição para o recomeço de vida são “muito difíceis na vida de um recluso”.

“Antes de começar a ir às prisões, tinha o preconceito que o dia da libertação de um recluso seria um dia de grande alegria. E a maior parte das vezes não é. A maior parte das vezes é um dia de grande ansiedade, que é antecedido por uma série de noites mal dormidas, porque a vida continuou cá fora, as famílias continuaram com as suas dinâmicas e com o seu próprio caminho e o recluso esteve ali estagnado no tempo enquanto esteve preso”, descreve.

Na bula de proclamação do Ano Santo 2025, o 27.º jubileu ordinário da história da Igreja Católica, que se iniciou a 24 de dezembro, com Francisco a presidir à Missa com a abertura da Porta Santa, na Basílica de São Pedro, o Papa apela a uma amnistia para os presos como sinal de esperança.

“Há aqui qualquer coisa de profético neste documento que o Papa pôs ao referir os presos em primeiro lugar. Evidente que também refere os doentes, os jovens, os migrantes, os idosos e os pobres, mas em primeiro lugar, fui surpreendido com o facto de referir os presos”, confidenciou Francisco Costa Macedo.

O diácono denuncia que “os presos são uma espécie de homens e mulheres invisíveis” na sociedade e que todos preferem viver como se “eles não existissem”.

Francisco Costa Macedo foi ordenado diácono permanente no Patriarcado de Lisboa a 1 de dezembro e refere que teve “manifestações de grande amizade e abraços muito apertados” depois de ter ido “à prisão pela primeira vez”.

“Foi um momento de grande alegria para todos. Agora, eu acho que não vai mudar muita coisa. Continuamos a trabalhar em equipa com o Capelão. Mas, de facto, ganho aqui outra capacidade para outros serviços, nomeadamente o Ministério da Palavra”, indica.

PR/LJ/OC

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Agência ECCLESIA

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