Igreja/Sociedade: Presidente da Comissão Justiça e Paz alerta para aumento das «violações da liberdade religiosa» na China

Pedro Vaz Patto denuncia uso da tecnologia e apoios sociais para «controlar vida das pessoas»

Lisboa, 15 out 2019 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Nacional de Justiça e Paz (CNJP), da Igreja Católica em Portugal, considera que “as violações da liberdade religiosa” se acentuaram na China, desde a assinatura do acordo entre a Santa Sé e o Governo de Pequim.

“Proibir a educação religiosa de crianças e adolescentes e a sua entrada em lugares de culto, o uso de tecnologia mais avançada para o controlo da população nestes domínios é próprio de um Estado totalitário que pretende controlar todos os domínios da vida das pessoas, incluindo os mais íntimos, como é a religião”, disse Pedro Vaz Patto à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

Na informação enviada hoje à Agência ECCLESIA, o juiz português alertou para o uso de tecnologia, como “técnicas de reconhecimento facial”, e para a criação de sistemas, como o “crédito social”, que permite “condicionar a atribuição de benefícios” em função do comportamento das pessoas”, como a sua prática religiosa.

O presidente da Comissão Nacional de Justiça e Paz considera que entre as principais vítimas destas medidas do Estado chinês estão “sobretudo as comunidades, de várias religiões, que escapam ao controlo estatal”, especificando que entre os que “mais sofrem essa repressão”, estão “as comunidades clandestinas cristãs, ou não cristãs”.

Neste contexto, exemplificou com a situação dos muçulmanos uigures e os relatos que cerca de 1 milhão de pessoas estão em campos de reeducação.

“É evidente que já houve uma resolução do Parlamento Europeu a denunciar esta situação, mas não teve grandes consequências. O pretexto é o combate ao terrorismo, mas não podemos associar toda a população, só por ser muçulmana, ao terrorismo”, acrescentou.

Pedro Vaz Patto assinala que “não existe” por parte dos cristãos, nem de qualquer outra religião, “algum propósito de combater politicamente o Estado”, mas “a repressão, a privação das liberdades religiosas atinge todas as religiões”.

“Não podemos ignorar a situação da China no que diz respeito aos direitos humanos”, realçou.

No dia 22 de setembro de 2018, o Vaticano anunciou a assinatura de um “acordo provisório” entre a Santa Sé e Pequim, relativo à nomeação de bispos para as comunidades católicas na China, o primeiro do género assinado entre as duas partes.

Segundo Pedro Vaz Patto, desde esse acordo que “se têm agravado as violações da liberdade religiosa e da liberdade dos católicos”, em especial dos que “não aceitam a adesão à Associação Patriótica”.

As relações diplomáticas entre a China e a Santa Sé terminaram em 1951, após a expulsão de todos os missionários estrangeiros, muitos dos quais se refugiaram em Hong Kong, Macau e Taiwan.

Em 1952, o Papa Pio XII recusou a criação de uma Igreja chinesa, separada da Santa Sé [Associação Patriótica Chinesa, APC – criada em 1957] e, em seguida, reconheceu formalmente a independência de Taiwan, onde o núncio apostólico (embaixador da Santa Sé) se estabeleceu depois da expulsão da China.

Na entrevista à AIS, Pedro Vaz Patto comentou também as manifestações em Hong Kong e teme uma reação do “poder chinês que poderá pôr em causa a situação especial” de ordenamento jurídico e de liberdade da antiga colónia britânica.

“Seria bom que isso não acontecesse, porque então nem sequer em Hong Kong e em Macau se poderia gozar essa liberdade que não existe no resto da China”, analisou o presidente da Comissão Nacional de Justiça e Paz.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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