D. Vincenzo Paglia indicou «três caminhos de trabalho» para que «ninguém fique excluído da mesa da vida»
Cidade do Vaticano, 25 ago 2023 (Ecclesia) – O presidente da Academia Pontifícia para a Vida (Santa Sé) alertou para “o desperdício de alimentos”, afirmando que é preciso “uma abordagem responsável, até mesmo espiritual”, à Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), no Chile.
“A economia não pode ser considerada como um fim em si mesma, mas como um meio ao serviço da vida das pessoas e da construção de uma sociedade justa”, disse D. Vincenzo Paglia, esta quinta-feira, numa conferência da FAO em em Santiago, capital do Chile, informou hoje o portal ‘Vatican News’.
Neste contexto, o colaborador do Papa citou a mensagem de Francisco para o Dia da Alimentação de 2021 – “a luta contra a fome exige a superação da lógica fria do mercado, focada avidamente no mero benefício económico e na redução dos alimentos a uma mercadoria como tantas outras” – e afirmou que “toda experiência humana, inclusive a económica, se insere e coopera na construção de uma família humana fraterna”.
Para os agentes económicos significa reconhecer “a responsabilidade social do seu trabalho, a interconexão entre diferentes sujeitos, o cuidado com as pessoas e com o mundo em que habitam”.
‘Prevenir e reduzir a perda e o desperdício de alimentos no contexto da segurança alimentar e nutricional. Um desafio intersetorial’, foi o tema da conferência onde interveio D. Vincenzo Paglia, na sede da Representação da FAO para a América Latina e o Caribe.
Segundo o presidente da Academia Pontifícia para a Vida, “para que ninguém fique excluído da mesa da vida” existem “três caminhos concretos de trabalho”, e o primeiro é divulgar os dados sobre o desperdício de alimentos e avaliar “o peso social desse fenómeno”, considerando também importante “dizer qual é a perda em termos sociais e humanos do desperdício de um produto agrícola”.
Num segundo aspeto, o colaborar do Papa, indicou que é necessário analisar toda a cadeia alimentar, porque “o desperdício de alimentos só pode ser enfrentado” com uma visão abrangente da realidade.
O terceiro e último caminho, apontado por D. Vincenzo Paglia, é “mostrar o valor do alimento e da mesa”, e considerou que é necessário uma “abordagem responsável, até mesmo espiritual”, assinalando que estudos mostram que um dos principais passos para reduzir o desperdício de alimentos “é a educação, que permite a mudança de práticas domésticas que, de outra forma, seriam prejudiciais”..
“Se uma pessoa está informado da dignidade e da bondade de si mesma, de seus entes queridos e dos bens que tem à sua disposição desperdiça menos e faz da alimentação um ato profundamente humano.”
O responsável católico assinalou também que o desperdício de alimentos na América Latina tem uma percentagem baixa, 6% do desperdício mundial de alimentos, mas há 47 milhões de pessoas subnutridas no continente.
D. Vincenzo Paglia recordou a sua visita ao Haiti e às favelas da capital Porto Príncipe, há dois anos, onde encontrou “pessoas inchadas com alimentos não saudáveis ou atormentadas por uma desnutrição crónica”; e começou a intervenção a lembrar o discurso o Papa Francisco à Federação Europeia de Bancos de Alimentos (18 de maio de 2019): “desperdiçar alimentos significa descartar pessoas”.
“Como é possível continuar a fingir que não está a acontecer, a suportar isso, a não fazer nada?”, questionou, desafiando “a enfrentar a questão com seriedade e responsabilidade”.
CB