Igreja/Sociedade: Patriarca de Lisboa fala em «desajustamento legal» no aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo

D. Manuel Clemente considera que legislação existente está longe das «convicções» da população

Fátima, Santarém, 14 nov 2013 (Ecclesia) – O patriarca de Lisboa disse hoje em Fátima que os bispos católicos esperam a revisão das leis respeitantes ao aborto, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e à coadoção nestas uniões.

“Temos muitas dúvidas de que os patamares legais a que se chegou correspondam efetivamente à convicção, até diria maioritária, do povo português”, referiu D. Manuel Clemente, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), em conferência de imprensa.

Segundo este responsável, há um “desajustamento legal” entre o que “devia ser atendido” e a disposição a que se chegou.

Em particular, o patriarca de Lisboa destacou o fim da penalização do aborto, lei aprovada após o referendo realizado a 11 de fevereiro de 2007.

“Julgo que não atendeu nem incluiu aquilo que verdadeiramente devia ser incluído, ou seja, qual é a proteção jurídica e social que nós como cidadãos, como sociedade portuguesa, queremos dar àquilo que parece evidente do ponto de vista científico: que a vida humana é um processo contínuo, da conceção à morte natural”, acrescentou.

D. Manuel Clemente manifestou igualmente “dúvidas” sobre a equiparação ao matrimónio das uniões entre pessoas do mesmo sexo.

“Tenho dúvidas de que seja algo de dispensável e de secundário o facto de encarar a família, o casal e até os filhos com ou sem complementaridade homem-mulher, masculino-feminino, como se isso fosse um fator irrelevante. Não acho nada que seja irrelevante e julgo que boa parte dos meus concidadãos também não acham que esse seja um aspeto irrelevante”, observou.

Para o patriarca de Lisboa, são essas “considerações prévias” que devem ter tradução legal, porque as leis são devem ser “expressão de uma sociedade, do que ela pensa, dos seus sentimentos básicos”

“Em todo este campo da sexualidade, da moral familiar, da própria consideração da vida humana, do seu valor e como ele se há de proteger, eu penso que tem havido muito voluntarismo, nem digo jurídico, mas legal, que não incluiu uma reflexão básica aprofundada”, alertou.

D. Manuel Clemente entende que a posição da Igreja não colide com a existência de uma sociedade “plural”, de debate, “em que nem toda a gente pensa da mesma maneira” mesmo sobre “questões fundamentais”.

A CEP publicou hoje em Fátima uma carta pastoral “a propósito da ideologia do género” na qual se manifesta contra a “redefinição do casamento”, entre outros temas.

“As alterações legislativas que refletem a mentalidade da ideologia do género -concretamente, a lei que, entre nós, redefiniu o casamento – não são irreversíveis”, referem os bispos, no final dos trabalhos da assembleia plenária que decorreu desde segunda-feira.

De acordo com o presidente da CEP, os bispos entenderam ser oportuno “esclarecer” todos sobre “uma visão cristã e bíblica acerca da sexualidade e da família”.

D. Manuel Clemente apelou ao diálogo e ao “confronto de perspetivas” que levem a uma escolha “quando for para escolher”, sem “antecipar um processo legislativo, seja ele for, a um processo cultural que é sempre básico”.

“Nós temos leis para viabilizar as convicções, então vamos falar nas convicções. Nós julgamos que devíamos isso à sociedade portuguesa e à cultura”, acrescentou.

OC

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