COP 28 decorre no Dubai, quando se inicia novo ano litúrgico no calendário católico
Lisboa, 01 dez 2023 (Ecclesia) – Frei Hermínio Araújo (franciscano) e João Maria Carvalho, da associação ‘Casa Velha – Ecologia e Espiritualidade’, destacam que as palavras ‘irmão’ e ‘louvor’ são a novidade do Papa para o debate sobre ambiente, no contexto do início da COP28.
“A novidade pode dizer-se com a palavra radicalidade, uma vez mais, sempre reforçar, o Papa tem vindo a fazer isso desde o início do pontificado muito centrado em São Francisco de Assis, muito centrado nos pobres, naqueles que são vítimas de imediato de tantas problemáticas do nosso mundo”, disse o sacerdote franciscano, em entrevista à Agência ECCLESIA.
“É o ir mesmo ao essencial do essencial, daquilo que somos e somos uns com os outros, em Francisco de Assis é a palavra ‘irmão’ e ‘irmã’: cada ser muito concreto que Francisco chama de irmão e irmã”, acrescentou frei Hermínio Araújo.
Já João Maria Carvalho destacava a palavra ‘irmão’ que, como costuma dizer, é a palavra que “transforma mais a realidade, chamar irmão, irmã a cada coisa, e o frei Hermínio disse que não é só a fraternidade em abstrato mas um irmão concreto”, mas acrescenta, destaca também outra palavra que está presente nos dois documentos do Papa Francisco sobre o clima, a casa comum.
O jovem da Associação ‘Casa Velha – Ecologia e Espiritualidade’ explica que é o “verbo louvar que se repete” no título dos “dois documentos fundamentais” de Francisco, a encíclica ‘Laudato Si (Louvado sejas) – sobre o cuidado da casa comum, de 2015, e a recente exortação ‘Laudato Deum (Louvai a Deus) – sobre a crise climática’, onde dedica um capítulo à Cimeira do Clima no Dubai, a COP28, que começou esta quinta-feira, dia 30 de novembro.
“As palavras ‘irmão’, ‘irmã’ e ‘louvor’ são palavras matrizes de Francisco de Assis. A transição energética é um motivo, e é um motivo urgente e grave, mas esse motivo deve dizer-se a partir do irmão e do louvor; parece que o Papa nos está a provocar a pensar o louvor”, acrescentou.
João Maria Carvalho cantou o “Cântico das Criaturas”, no original de São Francisco de Assis, na vigília ecuménica “Salvar o Planeta, defender a vida”, na Praça de São Pedro, realizada a 30 de setembro.
Segundo o jovem de 24 anos, Francisco de Assis no louvor “não apaga nada”, não apaga a ferida, não apaga a morte, “as feridas da terra e os gritos da terra são potenciados no louvor”, que é “uma espécie de câmara acústica”.
“No louvor cabe tudo, cabe a ferida, cabe o afago, por isso, trazer o louvor é um bocadinho trazer-nos na nossa vulnerabilidade, no nosso desamparo, na nossa nudez e podermos olhar verdadeiramente uns aos outros, por isso o louvor é o início de um verdadeiro diálogo, uma conversa”, desenvolveu.
No Programa ECCLESIA, transmitido a cada sexta-feira na RTP2, também os convidados também comentam as leituras que vão ser lidas nas comunidades católicas no domingo seguinte; no calendário litúrgico da Igreja Católica vai começar o Tempo do Advento, de preparação para o Natal, onde do Evangelho destaca-se o verbo vigiar.
“É o apelo fundamental no contexto da cimeira, um Evangelho destes é mesmo um abanão significativo, um convite à atenção focado no essencial do essencial. E sem desperdiçar energias em coisas secundárias”, disse frei Hermínio Araújo.
João Maria Carvalho realçou que no verbo vigiar é preciso também perceber que “não é só estar em estado de alerta”, mas “é uma atenção diária, humilde, quase como a atenção do jardineiro, do agricultor, humilde, ao que floresce cada dia”.
“Esta vigia, este ofício da atenção, é um estado de relação, é uma atitude do coração, da atenção humilde, pequena, diria até mansa. Há um tumulto necessário na atenção, mas essa atenção, essa vigia, só pode ser louvante se for tida como lugar de relação, vigiar torna-me irmão das coisas”, explicou o membro da comunidade da ‘Casa Velha, Ecologia e Espiritualidade’.
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