Igreja/Sociedade: Padre Peter Stilwell destaca importância do diálogo ecuménico e inter-religioso para a paz mundial

Responsável do Patriarcado de Lisboa lamenta situações em que o cristianismo se associa a «opções políticas» e incentive à violência

Lisboa, 18 jan 2023 (Ecclesia) – O diretor do Departamento de Relações Ecuménicas e Diálogo Inter-religioso do Patriarcado de Lisboa considerou “uma tristeza” quando o cristianismo se associa de tal modo às opções políticas que “acaba por incentivar à violência”.

“O diálogo entre cristãos torna-se cada vez mais importante, como o diálogo entre as religiões, para contribuir para a paz mundial, para o entendimento entre os povos”, disse o padre Peter Stilwell, em entrevista à Agência ECCLESIA, pelo início da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2023 (18-25 de janeiro).

O  sacerdote lembra a guerra que opõe a Ucrânia e a Rússia, no leste da Europa, que começou a 24 de fevereiro de 2022 com a invasão russa, dois países de “maioria ortodoxa” como é que as comunidades cristãs “poderiam contribuir para a paz”.

Segundo o padre Peter Stilwell, “seria bom” que as comunidades dos respetivos países pudessem trabalhar este tema, e “não só do que se passa durante a guerra”, como o apoio aos militares, a sarar os feridos, apoiar as pessoas.

O diretor do Departamento de Relações Ecuménicas e Diálogo Inter-religioso do Patriarcado de Lisboa assinala que a Igreja Ortodoxa tem a justiça após a guerra (‘Jus post bellum’), que não existe na tradição católica, onde “impõem um tempo de penitência” para quem foi “obrigado por causa da sua profissão a matar”, e só depois desse período de penitência “pode voltar a comungar na sua Igreja”.

“Isso dá que pensar, sabemos o stress pós-traumático que os militares sofrem, isso é tratado ao nível da psicologia, do acompanhamento dos ex-militares, mas a dimensão espiritual muitas vezes é esquecida”, acrescenta.

O padre Peter Stilwell afirma que “é uma tristeza quando o Cristianismo se associa de tal modo às opções políticas que acaba por incentivar à violência”, sobre o patriarca da Igreja Ortodoxa russa, Cirilo, que “foi infeliz” nas suas declarações sobre a guerra, observando que “ao longo da história” existiram bispos e até Papas “a incentivar os seus fiéis a irem para a frente da guerra”.

O Papa Francisco condenou hoje o ataque contra um prédio residencial em Dnipro, na Ucrânia, que no último sábado provocou “muitas vítimas civis, entre elas crianças”, num novo apelo à paz.

Foto: Agência ECCLESIA/HM

Sobre estes incentivos à paz, o diretor do Departamento de Relações Ecuménicas e Diálogo Inter-religioso do Patriarcado de Lisboa explica que “o Papa é visto como um marginal, se não mesmo um herege” aos olhos do mundo Ortodoxo, que se consideram como tendo a interpretação ortodoxa, autêntica do cristianismo, recordando que a relação dos Papas com o Patriarcado de Moscovo “nunca foi fácil”.

Esta quarta-feira, começa a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos no hemisfério norte, decorre de 18 a 25 de janeiro; tem como tema “Aprendei a fazer o bem e procurai a justiça”, do profeta Isaías, alerta para as questões do racismo e da discriminação, por proposta do Conselho de Igrejas do Minnesota, nos EUA.

“Sentiram que gostariam de sublinhar a importância de restabelecer a justiça no encontro entre os povos e dentro dos povos, questões que nos Estados Unidos têm estado ao rubro, tem havido falta de respeito pela vida daqueles que não são europeus, caucasianos, de origem”, analisou o padre Peter Stilwell.

O Papa Francisco também assinalou o início da semana anual de oração pela unidade dos cristãos, agradecendo a todos os que ajudam os mais necessitados, noutras Igrejas e comunidades.

“Convido-vos a agradecer a Deus pelo serviço que os nossos irmãos de outras confissões prestam aos mais necessitados. Esta via da caridade aproximar-nos-á cada vez mais, amando e imitando Cristo Bom Pastor”, disse Francisco, na saudação aos peregrinos de língua portuguesa, no final da audiência pública semanal de quarta-feira, no Vaticano.

PR/CB/OC

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