Ecumenismo: Conhecimento e falar juntos «linguagem do amor» deve ser caminho de aproximação entre cristãos

Na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, Timóteo Cavaco, presidente da direção da Aliança Evangélica Portuguesa valoriza a diversidade e o trabalho de base, «tantas vezes escondido», realizado pelas igrejas cristãs

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 18 jan 2023 (Ecclesia) – Timóteo Cavaco, presidente da direção da Aliança Evangélica Portuguesa, diz que os cristãos devem usar mais o amor como “linguagem de unidade” mas alerta que o conhecimento tem de ser o primeiro passo.

“É muito importante que os cristãos coloquem o amor como linguagem de unidade, mas eu começaria pelo conhecimento. Fico muito surpreendido com o facto de a religião, de uma forma geral, e particularmente o cristianismo, pode levar ao conflito. O conhecimento do outro leva-nos a uma aproximação, à possibilidade de algo”, refere, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O responsável recorda que a “diversidade” faz parte da história do cristianismo, “desde o I século” e afirma que o reconhecimento dessa variedade não deveria “ser um drama”.

É natural que os cristãos se expressem através de diferentes pertenças. Se assim não fosse, talvez não encontrássemos essa diversidade logo no I século. Há tradições diferentes, e não falo apenas dentro das grandes famílias cristãs: recordo a diversidade que há no campo evangélico, mas também aquela que se encontra nos carismas dos movimentos, nas paróquias e até nas dioceses católicas”.

Timóteo Cavaco cresceu na Igreja Batista com o pai pastor e a mãe muito envolvida “no trabalho da Igreja e de outras organizações cristãs”, e em sua casa o estudo da Bíblia acompanhou a sua formação, tendo sido natural “decorar alguns versículos”.

“A minha identidade protestante ficou fortalecida pelo conhecimento dos outros. Estou muito bem como cristão evangélico, sinto-me muito bem, identifico-me como tal e as outras referências cristãs acontecem não por oposição ou confronto, mas por encontro”, sublinha.

O atual presidente da direção da Aliança Evangélica Portuguesa nota uma “evolução no diálogo inter-religioso”, mas acrescenta que gostaria que o plano interconfessional não ficasse esquecido.

“Evoluiu-se muito no diálogo inter-religioso mas penso trouxe para segundo plano o diálogo interconfessional. Sem desprezar nenhuma faceta, há dois planos de diálogo, e é importante não esquecermos o diálogo interconfessional. Ambos devem ser alimentados”, valoriza.

Em funções diretivas na Aliana Evangélica até 2025, Timóteo Cavaco indica privilegiar “o trabalho feito pelas bases”, que talvez mais escondido, dá passos no compromisso social, na presença nos media e “mostra uma presença real na sociedade”.

“De uma forma geral privilégio o diálogo feito nas bases e gosto muito de trabalhar com as bases, apesar de muitas vezes ser chamado a trabalhar nas instituições. Hoje há maior consciência de que a sociedade é plural e tem de passar pela participação ativa de todos”, indica.

O responsável reconhece que a tradição católica conferida à Igreja, o estudo bíblico dos evangélicos e a riqueza litúrgica que os cristãos ortodoxos privilegiam são uma riqueza a evidenciar no caminho da unidade.

Em entrevista ao programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública, Timóteo Cavaco recorda a centralidade do estudo bíblico na sua vida, ao qual não conseguiu fugir apesar dos estudos em Bioquímica, e também o dever “quase apologético” para conhecer “mais Jesus” e poder “apresentar as razões da fé”.

“A Bíblia esteve presente desde que começamos a falar as primeiras palavras: memorizámos versículos bíblicos, essa identificação com um Deus trinitário, esteve sempre presente na minha aprendizagem, anterior até à alfabetização. Já numa fase de adolescência e de confronto com a identidade, foi muito importante descobrir o significado de alguns textos: perceber que a minha vida podia ser uma oferta constante a Deus”, recorda.

Timóteo Cavaco fala ainda do “fenómeno paradoxal” de hoje haver mais acesso à Bíblia, através de diferentes traduções, “confessionais ou não”, mas haver “menos interesse nela”.

Nos recentes resultados do Census 2021, percebemos que uma das áreas da população que mais cresceu foi a dos que se consideram «sem religião», o que talvez não descreva a realidade; sei que tinha sido proposto ao Instituto Nacional de Estatística a inclusão de uma categoria de «crentes sem religião», que não foi aceite. Mas devemos perceber que dentro dessa categoria lata de «pessoas sem religião», vamos encontrar ateus, agnósticos e também pessoas que não se revem em nenhuma das opções anteriores e no entanto vivem algum tipo de religiosidade, muitas vezes até cristã – um acreditar sem pertencer a nenhuma instituição”.

“As pessoas olham para o fenómeno religioso como algo ritualista e talvez não estejam dispostas a essa vertente, que para mim é importante, até porque o cristianismo será difícil ser vivido sem ser em comunidade”, acrescenta.

A conversa com Timóteo Cavaco pode ser acompanhada esta madrugada, depois da meia-noite, no programa Ecclesia na Antena 1 da rádio pública, ficando disponível no portal de informação e no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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