Igreja/Sociedade: Nova encíclica deve valorizar papel da política na construção de novo paradigma de desenvolvimento

Padre José Manuel Pereira de Almeida projeta «Fratelli Tutti», que vai ser publicada no domingo

Foto: Sofia Moreira/RR

Lisboa, 02 out 2020 (Ecclesia) – O padre José Manuel Pereira, vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, espera que a nova encíclica do Papa venha valorizar o papel da política na construção de um novo paradigma de desenvolvimento.

“A política ao serviço do bem comum, de todos e de cada um, para que o desenvolvimento seja harmónico, global, não esmagando nem descartando ninguém”, refere o convidado da entrevista semanal conjunta Renascença/Ecclesia, emitida e publicada a cada sexta-feira.

O secretário da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana (CEPSMH) recorda um tema teológico já abordado na encíclica ‘Laudato Si’ (2015), o “amor político”.

“Desde João XXIII, a política tem sido apresentada como um alto empenho da ação da caridade. Não é às vezes a política que nós vemos, mas é a política como é chamada a ser”, precisa.

A encíclica ‘Fratelli Tutti’ vai ser assinada este sábado, junto ao túmulo de São Francisco de Assis, nesta cidade italiana; o texto será divulgado pelo Vaticano, no domingo, a partir das 12h15 de Roma (menos uma em Lisboa).

O padre José Manuel Pereira de Almeida refere que São Francisco de Assis tem inspirado o atual Papa num percurso de “inovação e de criatividade pastoral”.

O entrevistado considera a atual pandemia como “lugar crítico” para se avaliar a disponibilidade de pessoas e comunidades em “cuidar do outro”.

“O grande desafio é a vacina, o Papa tem sublinhado que só pode ser para todos, não pode ser para os que podem ou para os que têm”, exemplifica.

O vice-reitor da UCP observa que o tem procurado promover “a atenção ao povo e não ao populismo”, em particular nos discursos sobre as migrações, com um olhar de fraternidade sobre o Mediterrâneo.

Foto: Lusa/EPA

“O que é isto de dar a vida, dar atenção ao outro? É tanto quanto de mim depende, fazê-lo viver, portanto, essa é a atitude em relação a um irmão”, assinala.

O secretário da CEPSMH refere que há muitas vozes a lamentar o desconhecimento da Doutrina Social da Igreja é muito pouco conhecida.

“Nós temos de a dar a conhecer, e creio que estamos num momento em que seremos infiéis ao Evangelho se não o fizermos”, sustenta.

O entrevistado sublinha as preocupações do Papa com o atual modelo económico e admite que o pensamento cristão, neste campo, vai ter de incorporar novos elementos que a Covid-19 mostrou.

“Para ficarmos melhor – ou seja, mais irmãos e mais atentos, com uma Casa Comum mais habitável por nós e pelas gerações futuras – a economia tem de ter no centro nunca o lucro, mas as pessoas, as comunidades e a vida, tornar o planeta mais habitável”, precisa.

O padre José Manuel Pereira de Almeida fala ainda de outro dos temas anunciados, para a nova encíclica, a “amizade social”.

“É mesmo a nossa utopia no sentido bom, no sentido fecundo, é para ali que vamos. É mobilizador, o que queremos construir, com finalidades partilhadas, como o bem comum”, realça.

Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

 

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