Associação dos Médicos Católicos Portugueses distinguiu infeciologista e investigador
Lisboa, 30 nov 2024 (Ecclesia) – O infeciologista e investigador António Sarmento foi hoje distinguido no Encontro Nacional da Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP), que decorreu em Lisboa, alertando para o risco de transformar a medicina num “grande negócio”.
“Fala-se muito em medicina centrada nos doentes, mas eu não conheço outra medicina que não seja centrada nos doentes. Se não for, é outra coisa qualquer, mas não é medicina. Os hospitais públicos também têm objetivos que, muitas vezes, não têm nada a ver com os doentes”, disse o médico e professor catedrático, após receber o ‘Prémio Dignitas Personae’, da AMCP.
O especialista apelou à “primazia da beneficência”, questionando a ideia de quantificar “ganhos em saúde”.
António Sarmento pediu que a “ética” e a “virtude” marquem a ação médica, recordando pessoas que, ao longo da história, pagaram com a própria vida a dedicação aos doentes, em condições extremas.
A cerimónia de entrega contou com a presença da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, que elogiou António Sarmento como “um médico que fez da sua carreira um tributo à defesa da vida e à dignidade das pessoas”.
A responsável política considerou que o distinguido é “um humanista, uma inspiração para todos” na área da saúde.
“O exercício da profissão médica obriga a um compromisso ético, a um respeito permanente pela dignidade dos seus doentes, que somos todos nós. E a dignidade não é um privilégio, é um direito inalienável, é um alicerce sobre o qual construímos sociedades mais justas e mais humanas”, acrescentou.
Ana Paula Martins defendeu que os médicos devem ser “autónomos e livres” e “não podem ser burocratizados ou funcionalizados”.
O ‘Prémio Dignitas Personae’ foi instituído pela AMCP em 2021, com o intuito de distinguir pessoas ou instituições que se tenham notabilizado na defesa da vida e na dignidade da pessoa humana.
A entrega da distinção encerrou o programa do Encontro Nacional da AMCP, que incluiu uma conferência do investigador Henrique Leitão, membro do Comité Pontifício para as Ciências Históricas (Santa Sé), sobre o tema ‘A Inteligência Artificial e a Inteligência Humana que a inventa’.
O encontro, intitulado ‘De Hipócrates ao Chat GPT – O que muda e que perdura’, contou ainda com as conferências ‘Juramento de Hipócrates – é suposto mudar?’, por Teresa Souto Moura, e ‘Qual a imagem da inteligência humana?’, por Sofia Reimão.
Margarida Neto, presidente da AMCP, disse à Agência ECCLESIA, no final dos trabalhos, que independentemente das mudanças que a inteligência artificial possa trazer “o que perdura é certamente a atitude do médico com o seu doente, a relação de proximidade, a comunicação, a compaixão”.
“Isso não é substituído por um robô ou por outra tecnologia”, insistiu.
A responsável destacou a presença de dezenas de jovens estudantes, entre os 148 participantes no encontro, destacando uma das intervenções em que se pediram “mestres” para a formação dos futuros médicos.
“Foi um grito, um grito de alerta bastante verdadeiro da parte dela: ‘Nós não temos mestres’. Temos de pensar sobre isto, a educação médica e as faculdades têm de pensar sobre isto”, observou Margarida Neto.
Para a presidente da AMCP, a tecnologia “alarga o saber” e prepara médicos “mais eficazes em diagnósticos”, mas o “essencial” continua a ser a “relação com o doente”.
A responsável deixou ainda uma palavra de saudação a António Sarmento, distinguido neste encontro nacional.
“Honramo-nos muito de ter tido um presidente, ainda um associado, que incorpora os valores quer da medicina, quer do Evangelho”, concluiu.
OC