Lisboa e Braga recebem colóquio internacional «Desporto, Ética e Transcendência» promovido pela Universidade Católica
Lisboa, 26 nov 2018 (Ecclesia) – O filósofo português Manuel Sérgio afirmou que o desporto atual “reproduz e multiplica as taras da sociedade capitalista”, como a mania do recorde, da medida, de uma competição sem regras.
“Não sou contra uma sociedade com mercado, sou contra uma sociedade de mercado em que os valores primeiros são do economicismo, defendidos pelo neoliberalismo, o que na realidade inquina a prática desportiva”, refere, em entrevista à Agência ECCLESIA, no contexto do colóquio ‘Desporto, Ética e Transcendência’, promovido pela Universidade Católica Portuguesa.
“Antes do desporto está o homem. Na medida em que for mais humano serei melhor desportista e até terei qualidades para ser campeão, habitualmente é superiormente dotado do ponto de vista físico, moral, intelectual, espiritual”, acrescenta o professor universitário.
Manuel Sérgio assinala que no desporto “nem sempre há cuidado” com esses valores, mas “assumi-los, vivê-los”, é condição para o indivíduo “ser melhor desportista”.
O Instituto de Estudos de Religião da Universidade Católica Portuguesa organiza o colóquio internacional ‘Desporto, Ética e Transcendência’, que começou hoje em Lisboa e termina esta terça-feira, em Braga.
“Estas três palavras são muito felizes porque não há desporto sem ética. Correr, saltar, chutar, encestar ainda não é desporto. Só é desporto quando tudo se faz à luz de determinados valores, designadamente aqueles que sem os quais se torna impossível viver humanamente”, realçou Manuel Sérgio.
O especialista sublinha que há uma série de valores que “devem impregnar a prática desportiva”, sustentado que, para “haver ética, é preciso haver transcendência”, uma vez que, “ninguém nasce generoso, ninguém nasce com determinadas qualidades”, e uma pessoa tem de se treinar na vida, de se exercitar para “superar as taras, defeitos, dificuldades”.
“Precisa de ter diante de si o absoluto, só sinto necessidade de superar os meus defeitos quando sei que há um absoluto, quando que há Deus, para mim a vida sem Deus é absurdo, com Deus é um mistério. Eu escolho o mistério”, desenvolve..
Para o professor universitário, um teórico que “muito tem aprendido com os práticos” e tem “grandes amigos no meio do desportivo”, a “maioria das pessoas que estão no desporto não sabem o que é o desporto”.
O colóquio internacional conta com desportistas e investigadores, como Fernando Mamede, João Brenha, Bruno Valentim, Ana Santos, Alexandre Palma, Luís Sénica e Alfredo Teixeira, e está ser organizado em parceria com o IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude/Plano Nacional de Ética no Desporto, e o Instituto Luso-Ilírio para o Desenvolvimento Humano/Universidade dos Valores.
Com formação em Filosofia, Manuel Sérgio explica que esse conhecimento “ajuda a conhecer melhor o desporto” e realça que ao longo da história da Filosofia encontra-se “o radical fundante das várias épocas do desporto”.
O colóquio internacional começou com o lançamento da Cátedra Manuel Sérgio – ‘Desporto, Ética e Transcendência’.
Aos 85 anos de idade o professor universitário – que ainda está a estudar e a ser convidado para conferências, “como se tivesse 30 ou 40 anos” – lembra que o Papa Francisco diz mesmo que fazer desporto é um chamamento à “santidade”.
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