Professor da Faculdade de Teologia diz que o «cuidado» pelo outro e pelo mundo é a «chave de leitura» do pontificado de Francisco
Lisboa, 07 jan 2021 (Ecclesia) – Juan Ambrósio, professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa (UCP), disse à Agência ECCLESIA que a justiça e o cuidado social propostos pelo Papa, é “uma exigência da própria fé”.
“Na medida em que cuido, sou cristão”, assinala, em entrevista a respeito da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz 2021, dedicada à “cultura do cuidado”.
Juan Ambrósio destaca que esta é uma mensagem que decorre da reflexão teológica, sobre a Criação, a ação messiânica de Jesus e as obras de misericórdia, nas comunidades católicas
“O primeiro gesto salvífico de Deus é a Criação”, observa.
A Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2021 apresenta uma “gramática” do cuidado, que passa pela “promoção da dignidade de toda a pessoa humana, a solidariedade com os pobres e indefesos, a solicitude pelo bem comum e a salvaguarda da criação”.
O Papa coloca esta preocupação em ligação com os ensinamentos bíblicos, que mostram um “Deus Criador” e as “ações messiânicas” de Jesus em favor dos mais desfavorecidos, lembrando ainda que “as obras de misericórdia espiritual e corporal constituem o núcleo do serviço de caridade da Igreja primitiva” e da Doutrina Social da Igreja. |
O docente da UCP defende que o cuidado é uma “chave de leitura” para ler este pontificado, nos seus documentos centrais e propostas de ação, numa reflexão que compromete os líderes, quem tem responsabilidade política, económica ou religiosa
“Este programa do Papa é não só social, mas também político. Não temos de ter medo disso, político no sentido da política melhor, da que procura o bem comum, do amor político”, indica Juan Ambrósio.
O teólogo considera que a pandemia veio chamar a atenção para a importância dos cuidadores, algo assumido também por Francisco com a convocação de um ano especial dedicado a São José, em 2021, evocando todos aqueles que “na sombra, dia a fazem o exercício do cuidado”.
A imagem do cuidador marcou o início do pontificado, que se inaugurou solenemente no dia de São José, 19 de março, em 2003.
“Esse é o perfil que é apontado para ser o perfil do cristão. Voltamos aqui à reflexão teológica, aquilo que um cristão deve fazer é cuidar. E cuidar de quê? Cuidarmos uns dos outros”, precisa Juan Ambrósio.
O entrevistado sustenta que a opção cristã implica uma resposta positiva à questão de Deus sobre o cuidado do irmão, “chame-se ele como se chamar”, e é incompatível com qualquer discurso de racismo ou xenofobia.
“Se dúvidas houvesse, a pandemia revelou isso com toda a evidência: eu sou responsável pelo meu irmão”, aponta.
Uma visão global que se liga ao cuidado com a natureza e a “ecologia integral” que o Papa propõe na encíclica ‘Laudato Si’ (2015).
“A maneira de ser da Igreja é ser misericordiosa, leia-se, cuidadora”, conclui Juan Ambrósio.
O docente da UCP é entrevistado, de segunda a sexta-feira, sobre a mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz de 2021 e as propostas de Francisco para uma nova humanidade.
OC
Covid-19: Pandemia revelou «fragilidades» de mundo em crise – Juan Ambrósio