Dinâmica «Escutar a Cidade» chega ao fim com apelos para construir «caminhos de futuro»
Lisboa, 19 jun 2015 (Ecclesia) – A iniciativa «Escutar a Cidade», que chegou ao fim esta quinta-feira em Lisboa, “inscreveu-se num grande bem” que é “o diálogo” a promover entre pessoas que “pensam diferente”.
“A cidade de Lisboa e a sociedade em que vivemos serão mais ricas e mais felizes na medida em que promovemos o diálogo. A Igreja deve estar nesse tom”, afirmou à Agência ECCLESIA o bispo auxiliar do patriarcado, D. José Traquina, que no Fórum Lisboa ouviu os últimos desafios colocados à Igreja Católica sob o tema ‘Linguagens, espiritualidades, sexualidades e convicções’.
A dinâmica que ao longo de seis meses envolveu cerca de 30 movimentos, comunidades e organizações católicas, como forma de auscultar não crentes na preparação do Sínodo Diocesano de Lisboa, foi para o bispo auxiliar um espaço de “abertura” para essa conversa, ditando “caminhos para o futuro”.
Louvando a iniciativa de leigos e esperando que “aconteçam outras”, o responsável saudou “o envolvimento” provocado.
“Não estamos a estudar um documento em casa, não o fazemos sozinhos. Estamos a participar, pondo as pessoas a conversar, a participar, a colocar em cima da mesa as suas reflexões sobre a realidade. Confrontado depois com aquilo que é a reflexão que a Igreja tem sobre esta realidade dará com certeza, pistas, ajudará a abrir caminhos novos para todos”, assinalou.
A poetisa Ana Luísa Amaral, convidada a desafiar a Igreja na última sessão, destacou à Agência ECCLESIA a ponte que a espiritualidade pode ser.
“A espiritualidade pode ser uma forma de resistência, de insurreição, porque nos obriga à paragem, a resistirmos àquilo que faz parte hoje do nosso mundo, e que nos impõem, que é uma velocidade estonteante onde não conseguimos parar para pensar e sentir”, precisou.
Para a vencedora do Prémio Literário Casino da Póvoa em 2007, a fé “é uma forma de amor”.
“Se eu tentar pensar em algo aproximável à fé eu falaria do amor. Nós não vemos o amor e todavia sentimo-lo”, exemplificou.
A coreógrafa Madalena Vitorino quis propor um olhar “atento” ao movimento do mundo que, através de “diferentes formas de dança”, manifesta “problemáticas e preocupações”.
“A dança é um atividade muito humana que desventra a relação corpo a corpo ao seu essencial. É nesse sentido que eu sinto que é uma arte importantíssima para estar em todos os lugares, até nas igrejas”, defendeu.
A também professora na Escola Superior de Teatro e Cinema acredita que esta é uma forma de ir ao encontro do que a Igreja procura, colocando-as “em contacto” e construindo “uma vida para a frente”.
Para a cineasta Margarida Cardoso é importante quebrar o silêncio que constrói “ideias preconcebidas em especial juntos dos jovens” sobre a Igreja e que não mostram a “diversidade dos católicos”: “É um problema de silêncio não de linguagem. Há coisas que todos nós desconhecemos, respostas que não temos mas às quais não podemos deixar o silêncio. A paz não é silêncio e este não é resposta”.
O psicólogo e psicoterapeuta Telmo Baptista criticou a falta de tempo que “a vida rápida e a sociedade de consumo” impõem.
“Esta capacidade de, como comunidade, ouvirmos melhor os outros é construtora de saúde mental, de uma ligação que fomenta a capacidade de amar e ser amado”, disse.
Os organizadores da «Escutar a Cidade» vão produzir um texto síntese com os contributos dos convidados.
"Depois destas seis sessões, faz sentido que, além de sintetizar, formulemos esse nosso encontro com o escutado sob a forma de desafios ou prioridades para a Igreja diocesana. Para tal, iremos propor aos 30 movimentos promotores um método de elaboração de um documento que, posteriormente, faremos chegar ao secretariado do Sínodo", adiantou Helena Valentim.
LS