Igreja/Sociedade: Franciscanos celebram 800 anos do «Cântico das Criaturas», a história e a «acutilância da questão ecológica»

«Aproveitar este canto para recentrar a ecologia a partir de um valor absoluto, ajuda a engrandecer o próprio texto de São Francisco, dá-lhe atualidade» – Padre João Lourenço

Lisboa, 10 jan 2025 (Ecclesia) – A Ordem dos Frades Menores (OFM) celebra em 2025 o ano jubilar dos 800 anos do ‘Cântico das Criaturas’ de São Francisco de Assis, também conhecido como ‘Cântico do Irmão Sol’, com um conjunto de iniciativas que, em Portugal, se iniciam hoje.

“O ‘Cântico das Criaturas’ é um texto basilar da experiência franciscana e, eu diria também, da espiritualidade franciscana. Talvez, mais conhecido pelo ‘Cântico do Irmão Sol’, hoje, nós chamamos mais o apelativo ‘Cântico das Criaturas’, é, um bocadinho, a resposta à sensibilidade global desta dimensão franciscana de olhar à natureza”, disse o padre João Lourenço à Agência ECCLESIA.

O sacerdote da Província Portuguesa da Ordem Franciscana – OFM explica que este poema de São Francisco de Assis “canta toda a criação”, mas “como o refletor da grandeza e da beleza de Deus”.

“Não é um cântico que nos fala do mecanismo da criação, nem na enumeração da criação, não é um texto apologético, mas é um texto de louvor, é um texto de glorificação, da fraternidade, que reúne todas as coisas pelas quais Francisco se deixa encantar, ele canta a natureza a partir da sensibilidade, a partir do coração”, desenvolveu o padre João Lourenço.

O professor universitário sublinha que é a partir da obra criada que “o homem encontra este sentido de louvar, aquele que está na sua génese”, como acontece também no Salmo 8, “e em outros salmos do Saltério, em que o homem bíblico, ao contemplar tudo quanto lhe vai fora, a partir da sua sensibilidade, louva aquele que está nas origens”.

O padre João Lourenço, especialista em Sagrada Escritura, destaca que existem vários textos bíblicos que, hoje, são usados por muitos movimentos, “não apenas confecionais, e alguns nem religiosos”, como “o capítulo 2º de Isaías, o Salmo 8 e este ‘Cântico das Criaturas’”, que é, “um bocadinho, a resposta à sensibilidade global desta dimensão franciscana de olhar à natureza”.

“Cuidar a natureza é a melhor forma de engrandecer e de louvar a fonte dessa natureza, que é a vida, que é Deus. E, nesse sentido, o recurso ao canto é uma forma de promover, de estimar, de olhando a obra criada, poder de contemplar o Criador”, explicou o sacerdote franciscano, esta sexta-feira, no Programa ECCLESIA, na RTP2, onde comentou a liturgia destes domingo e foi lançada uma nova rubrica, no contexto do Ano Santo da Esperança.

O entrevistado assinala que a Ordem dos Frades Menores está “a dar um destaque muito importante a este momento”, aos 800 anos do ‘Cântico das Criaturas’, “por aquilo que o canto vale, mas, também, pela acutilância do tema da questão ecológica”.

“Nesta altura, temos no mundo três ou quatro problemas graves. Um é aquilo que podíamos chamar de ecologia, outro é a questão da energia. E aproveitar este canto para recentrar a ecologia a partir de um valor absoluto, que é a fonte dessa natureza, ajuda a engrandecer o próprio texto de São Francisco, dá-lhe atualidade”, desenvolveu o padre João Lourenço, considerando que este texto de São Francisco de Assis “nunca teve tanta atualidade como tem hoje”.

O ‘Centenário Franciscano’ foi subdividido em quatro, entre 2023 e 2026: a “Regra e o Natal de Greccio” (1223-2023); o “dom dos estigmas” (1224-2024); o “Cântico das Criaturas” (1225-2025) e a “Páscoa de Francisco de Assis” (1226-2026).

PR/CB/OC

 

A Ordem dos Frades Menores vai realizar uma sessão de abertura mundial dos 800 anos do ‘Cântico das Criaturas’ do seu fundador, este sábado, dia 11 de janeiro, em Assis (Itália), terra natal de São Francisco.

Em Portugal, “para não acumular duas iniciativas no mesmo dia”, os frades franciscanos iniciam esta sexta-feira, dia 10, as celebrações destes oito séculos do Cântico das Criaturas, com um encontro que “terá este sentido de enaltecer a importância do cântico”, às 21h00, no Centro Cultural Franciscano, no Seminário da Luz, em Lisboa.

Segundo o programa enviado à Agência ECCLESIA, esta iniciativa começa com um momento musical, por José Maria Carvalho, depois o jornalista António Marujo e os frades franciscanos Isidro Lamelas e Hermínio Araújo vão falar sobre o ‘Cântico das Criaturas’; frei Albertino Rodrigues encerra esta primeira sessão com um momento musical.

O padre João Lourenço adianta que já estão programados mais três encontros entre janeiro e março: no dia 23 de janeiro, “sobre a fundamentação bíblica, os ecos bíblicos no poema”, com o tema ‘O poema da criação no Cântico das Criaturas’; no dia 20 de fevereiro, com a participação do muçulmano Khalid D. Jamal e a escritora judia Miriam Assor, que vão falar das tradições ‘Cântico das Criaturas’, “sobre o tema da criação”, respetivamente, “quer no islamismo, quer no judaísmo”.

“Depois, no dia 20 de março, o terceiro encontro sobre o cântico e a ecologia, a problemática atual da ecologia e o contributo deste texto, deste poema, para dar sentido a esta questão ecológica, teremos a colaboração do professor Francisco Ferreira, da Associação Zero”, acrescentou o sacerdote franciscano.

Os franciscanos assinalam que este seu ano jubilar enriquece também a vivência do Ano Santo 2025 que o Papa Francisco convocou, com o lema ‘A Esperança Não Confunde’ (Spes non confundit).

 

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